domingo, 22 de novembro de 2009
Charro Virtual
Há quanto tempo que eu não vinha ao Facebook! Normalmente eu não tenho grande paciência para coisas dessas. Mas o que é facto é que é extremamente divertido. Creio que é mais ou menos a sensação que as mulheres têm quando entram numa loja de roupa só para experimentarem coisas. Eu ainda estou para saber como é que me diverti tanto a assinar uma petição e a saber que 50% dos meus amigos são raparigas.
sábado, 21 de novembro de 2009
O Fim do Mundo
Parafraseando o Tubo de Ensaio, 2012 é daqueles filmes em que uma pessoa sai do cinema deixando para trás bocadinhos de pipocas e de edifícios.
Ora bem. O 2012 está para o Dia Depois de Amanhã como o primeiro Transformers para o segundo. Este é maior, mais ruidoso, mais destrutivo, mas não necessariamente melhor.
Mas o que é que o faz melhor do que o Transformers? Por duas coisas:
1- Roland Emmerich é mais contemplativo e não tem aquela maravilhosa mania da câmara histérica, que parece as hormonas dum miúdo de 13 anos.
2- Roland Emmerich assassina as ciências da mesma maneira despreocupada do Michael Bay. Mas ao menos assassina ciências menos óbvias que o Michael Bay (ainda estou atravessado com aquela de Petra e Gizé serem em Eilat, Israel, que, pelos vistos, está do outro lado da Jordânia para quem vem do Cairo).
E isso faz toda a diferença. Enquanto o Mike teria posto os heróis a atravessarem o Pacífico numa avioneta, o Rollo ainda os faz ir a Las Vegas "buscar" um Antonov. Benditos os tempos em que o Mike fez o Armageddon e ainda estava contido nessa sua demanda de torpedear o "willing suspention of disbelief".
(OK, era mais fácil treinar astronautas para serem perfuradores do que treinar perfuradores para serem astronautas, mas isso não é daquelas coisas em que facilmente pensamos enquanto estamos no cinema.)
Passando este ponto. Em 2012 podemos apreciar quantas vezes é que uma pessoa pode escapar de ser morta por alguma espécie de catástrofe natural (sem dúvida a Amanda Peet e o John Cusack batem todos aos pontos, conseguem fugir de um abismo a abrir-se à frente ou por detrás deles por 6 vezes, escapam 2 vezes a uma nuvem piroclástica e passam por 4 vezes através de estruturas a ruir, saltam de um avião de carga dentro de um Bentley e ainda escapam ao maior tsunami da História desde os tempos de Noé com um aplond invejável.).
Pelo lado positivo da história: São nos apresentadas mais de 40 personagens diferentes e não nos perdemos. Os gráficos de CGI estão absolutamente fabulosos e há cenas de destruição deliciosamente gratuitas (eu tenho a certeza absoluta que a cena do Vaticano foi só para poder meter o tecto da Capela Sistina a rachar precisamente entre os dedos de Deus e Adão). A primeira parte (que este filme é de tal maneira grande que tem intervalo) é a melhor das duas. Vemos a tensão a acumular-se gradualmente até à melhor cena do filme que é a fuga de Los Angeles, digna de figurar entre o congelamento de Nova Iorque do Dia Depois de Amanhã e a bola de fogo no túnel do Dia da Independência como as melhores cenas de Roland Emmerich. Ainda temos as tiradas de humor negro típicas de um filme deste género (A última cena do Charlie, as velhinhas a guiar, e a cena do Bentley são as mais óbvias, mas há mais).
Do lado mau temos o fim que não têm a mesma emoção que o início. Tal como qualquer filme de desastre pega em todo o tipo de clichés, por mais velhos que sejam (eu já estava à espera de ver uma loura atada a uma via férrea por um vilão de bigodes retorcidos e chapéu alto mas isso não aconteceu). Não que o uso de clichés seja totalmente mau. O Moulin Rouge! é uma verdadeira floresta de clichés mas não deixa de ser um dos meus filmes preferidos. O que é mau neles aqui é que tornam o filme formulaico conseguimos praticamente ver a mesma estrutura deste filme no Dia Depois de Amanhã e no Dia da Independência... O que é pena. E o tamanho deste filme torna-o cansativo e depois de tudo o que se passou, o fim parece pecar pela falta de acontecimentos ultra-emocionantes.
Por isso eu dou-lhe um 4½.
Ora bem. O 2012 está para o Dia Depois de Amanhã como o primeiro Transformers para o segundo. Este é maior, mais ruidoso, mais destrutivo, mas não necessariamente melhor.
Mas o que é que o faz melhor do que o Transformers? Por duas coisas:
1- Roland Emmerich é mais contemplativo e não tem aquela maravilhosa mania da câmara histérica, que parece as hormonas dum miúdo de 13 anos.
2- Roland Emmerich assassina as ciências da mesma maneira despreocupada do Michael Bay. Mas ao menos assassina ciências menos óbvias que o Michael Bay (ainda estou atravessado com aquela de Petra e Gizé serem em Eilat, Israel, que, pelos vistos, está do outro lado da Jordânia para quem vem do Cairo).
E isso faz toda a diferença. Enquanto o Mike teria posto os heróis a atravessarem o Pacífico numa avioneta, o Rollo ainda os faz ir a Las Vegas "buscar" um Antonov. Benditos os tempos em que o Mike fez o Armageddon e ainda estava contido nessa sua demanda de torpedear o "willing suspention of disbelief".
(OK, era mais fácil treinar astronautas para serem perfuradores do que treinar perfuradores para serem astronautas, mas isso não é daquelas coisas em que facilmente pensamos enquanto estamos no cinema.)
Passando este ponto. Em 2012 podemos apreciar quantas vezes é que uma pessoa pode escapar de ser morta por alguma espécie de catástrofe natural (sem dúvida a Amanda Peet e o John Cusack batem todos aos pontos, conseguem fugir de um abismo a abrir-se à frente ou por detrás deles por 6 vezes, escapam 2 vezes a uma nuvem piroclástica e passam por 4 vezes através de estruturas a ruir, saltam de um avião de carga dentro de um Bentley e ainda escapam ao maior tsunami da História desde os tempos de Noé com um aplond invejável.).
Pelo lado positivo da história: São nos apresentadas mais de 40 personagens diferentes e não nos perdemos. Os gráficos de CGI estão absolutamente fabulosos e há cenas de destruição deliciosamente gratuitas (eu tenho a certeza absoluta que a cena do Vaticano foi só para poder meter o tecto da Capela Sistina a rachar precisamente entre os dedos de Deus e Adão). A primeira parte (que este filme é de tal maneira grande que tem intervalo) é a melhor das duas. Vemos a tensão a acumular-se gradualmente até à melhor cena do filme que é a fuga de Los Angeles, digna de figurar entre o congelamento de Nova Iorque do Dia Depois de Amanhã e a bola de fogo no túnel do Dia da Independência como as melhores cenas de Roland Emmerich. Ainda temos as tiradas de humor negro típicas de um filme deste género (A última cena do Charlie, as velhinhas a guiar, e a cena do Bentley são as mais óbvias, mas há mais).
Do lado mau temos o fim que não têm a mesma emoção que o início. Tal como qualquer filme de desastre pega em todo o tipo de clichés, por mais velhos que sejam (eu já estava à espera de ver uma loura atada a uma via férrea por um vilão de bigodes retorcidos e chapéu alto mas isso não aconteceu). Não que o uso de clichés seja totalmente mau. O Moulin Rouge! é uma verdadeira floresta de clichés mas não deixa de ser um dos meus filmes preferidos. O que é mau neles aqui é que tornam o filme formulaico conseguimos praticamente ver a mesma estrutura deste filme no Dia Depois de Amanhã e no Dia da Independência... O que é pena. E o tamanho deste filme torna-o cansativo e depois de tudo o que se passou, o fim parece pecar pela falta de acontecimentos ultra-emocionantes.
Por isso eu dou-lhe um 4½.
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
terça-feira, 17 de novembro de 2009
Xmas...
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
Capítulo 4 - Uma Nova Aquisição
A Dora Valente é uma personagem que nem sequer é mencionada na história anterior pois entrou na escola no 2º Período vinda de Sintra e era... estranha. Perfeita em termos de aulas e destrambelhada em termos pessoais. O pseudónimo dela aqui vem da Doreen Valiente, procurem por ela, por alguma razão é.
Enfim. Tenho dito.
Cena 7
Dora Valente está sentada à frente de Branco. Estão ambos no Gabinete espaçoso e ricamente mobilado do último. Branco está inclinado para a frente, os cotovelos apoiados na sua secretária e as mãos unidas, com os nós dos polegares encostados aos seus lábios, prescrutando a rapariga à sua frente. Dora, por sua vez, segura num capacete e está a olhar, de certa forma, curiosa para Branco, com a cabeça ligeiramente inclinada para a esquerda.
BRANCO: A senhora entende que tem um curriculum maravilhoso. Para quê vir trabalhar para aqui? Sabendo que eu pago uma miséria aos meus funcionários e os obrigo a trabalhar que nem uns escravos...
DORA: Ah... Só porque fica perto de casa. Eu moro já aqui ao lado. Questões práticas... E também... Todos os empregos que existem em Portugal são da F&I, não vejo qualquer razão para ir para outro lado.
BRANCO: Hum...
DORA: LOL...
Cai um silêncio pesado na sala.
DORA: Quer uma pastilha?
BRANCO: É de quê?
DORA: Hoje é de... (verifica o rótulo da embalagem) framboesa.
BRANCO: Pode ser.
Dora atira o pacote a Branco. Este apanha-o a meio do ar, tira uma pastilha e atira de novo o pacote a Dora. Esta agarra o pacote e também tira uma pastilha.
BRANCO: Obrigado.
DORA: De nada.
Cai de novo um grande silêncio na sala, desta vez entrecortado pelo som de mastigar e de um ou outro balão que é soprado por parte de um deles.
BRANCO: Já agora, aproveito para dizer que estamos numa empresa muito selectiva em relação aos seus funcionários. Desde já quero mostra-lhe o que é que eu faço aos funcionários que me desiludem. Venha para este lado da secretária.
Dora levanta-se e vem para ao pé de Branco. Este, carrega no botão do intercomunicador e fala para o seu interior.
BRANCO: Ó minha lesma repugnante, vem cá para cima.
HUGO (V.O.): (Suspirando) Sim, chefe.
Branco larga o botão do intercomunicador e vira-se para Dora.
BRANCO: A propósito, esta vai ser a pessoa com a qual a senhora vai trabalhar. Ou melhor, contra o qual vai trabalhar.
DORA: Contra?
BRANCO: Sim, contra. Na F&I acreditamos na competição e não na cooperação. Se houver cooperação, os funcionários desleixam-se e saem para ir tomar café e coisas dessas. Se os obrigarmos a competir uns contra os outros, esmeram-se no trabalho que lhes foi dado, só para manter o emprego.
A porta abre-se e entra Hugo.
HUGO: O que é que quer de mim, Mestre.
BRANCO: (Virando-se para Dora) Já somos amigos à muito tempo... (Para Hugo) Avança... aí uns cinco passos.
Hugo dá cinco passos para a frente.
BRANCO: Agora dá um passo de bebé para a direita.
Hugo dá um passo de bebé para a direita. Branco então carrega num botão vermelho ao lado do intercomunicador e um alçapão abre-se e Hugo cai com um grito. Ouve-se um baque, muito lá em baixo. Branco carrega num botão do intercomunicador.
HUGO (V.O.): Aaaaaah! As minhas costas.
BRANCO: Vá lá. Não sejas choramingas. Estava só a demonstrar à nova funcionária o que é que fazemos a quem nos desilude.
HUGO (V.O.): Mas dantes isto tinha um colchão!...
BRANCO: Não te queixes, tive de vender o colchão para combater a crise. Também queres sempre tudo... Vá. Vem para cima e depressinha que vais ter de fazer um relatório inteiro de Área Projecto para hoje à tarde. Hum?
Branco vira-se para Dora.
BRANCO: E pronto foi isto.
DORA: Uau! Isto foi giro? Posso?...
BRANCO: Hunnnfff... Ok, está bem. Mas é só desta vez. (Carrega de novo no intercomunicador.) Filipe, chega cá.
Filipe entra na sala.
BRANCO: Dá cinco passoas para a frente e um passo de bebé para a direita, pode ser?
Filipe faz o que lhe ordenam. Dora, então, carrega no botão e o alçapão abre-se. Filipe cai pelo buraco com um grito semelhante ao de Hugo.
HUGO (O.S.): (Muito ao longe) Não! Não! Não! Não! Não! Não! Não! Não!
Ouve-se um baque e o som de uma pessoa a cair em cima de outra. O alçapão fecha-se.
DORA: LOL. Isto é giro! Muito obrigada.
BRANCO: Já sabe qual é o trabalho a fazer.
DORA: Fazer um relatório para hoje à tarde, eu ouvi.
BRANCO: Muito bem. Até logo.
DORA: Até logo.
Dora abre a porta e sai.
Não percam o próximo capítulo: Capítulo 5 - O Poder das Flores
Enfim. Tenho dito.
Cena 7
Dora Valente está sentada à frente de Branco. Estão ambos no Gabinete espaçoso e ricamente mobilado do último. Branco está inclinado para a frente, os cotovelos apoiados na sua secretária e as mãos unidas, com os nós dos polegares encostados aos seus lábios, prescrutando a rapariga à sua frente. Dora, por sua vez, segura num capacete e está a olhar, de certa forma, curiosa para Branco, com a cabeça ligeiramente inclinada para a esquerda.
BRANCO: A senhora entende que tem um curriculum maravilhoso. Para quê vir trabalhar para aqui? Sabendo que eu pago uma miséria aos meus funcionários e os obrigo a trabalhar que nem uns escravos...
DORA: Ah... Só porque fica perto de casa. Eu moro já aqui ao lado. Questões práticas... E também... Todos os empregos que existem em Portugal são da F&I, não vejo qualquer razão para ir para outro lado.
BRANCO: Hum...
DORA: LOL...
Cai um silêncio pesado na sala.
DORA: Quer uma pastilha?
BRANCO: É de quê?
DORA: Hoje é de... (verifica o rótulo da embalagem) framboesa.
BRANCO: Pode ser.
Dora atira o pacote a Branco. Este apanha-o a meio do ar, tira uma pastilha e atira de novo o pacote a Dora. Esta agarra o pacote e também tira uma pastilha.
BRANCO: Obrigado.
DORA: De nada.
Cai de novo um grande silêncio na sala, desta vez entrecortado pelo som de mastigar e de um ou outro balão que é soprado por parte de um deles.
BRANCO: Já agora, aproveito para dizer que estamos numa empresa muito selectiva em relação aos seus funcionários. Desde já quero mostra-lhe o que é que eu faço aos funcionários que me desiludem. Venha para este lado da secretária.
Dora levanta-se e vem para ao pé de Branco. Este, carrega no botão do intercomunicador e fala para o seu interior.
BRANCO: Ó minha lesma repugnante, vem cá para cima.
HUGO (V.O.): (Suspirando) Sim, chefe.
Branco larga o botão do intercomunicador e vira-se para Dora.
BRANCO: A propósito, esta vai ser a pessoa com a qual a senhora vai trabalhar. Ou melhor, contra o qual vai trabalhar.
DORA: Contra?
BRANCO: Sim, contra. Na F&I acreditamos na competição e não na cooperação. Se houver cooperação, os funcionários desleixam-se e saem para ir tomar café e coisas dessas. Se os obrigarmos a competir uns contra os outros, esmeram-se no trabalho que lhes foi dado, só para manter o emprego.
A porta abre-se e entra Hugo.
HUGO: O que é que quer de mim, Mestre.
BRANCO: (Virando-se para Dora) Já somos amigos à muito tempo... (Para Hugo) Avança... aí uns cinco passos.
Hugo dá cinco passos para a frente.
BRANCO: Agora dá um passo de bebé para a direita.
Hugo dá um passo de bebé para a direita. Branco então carrega num botão vermelho ao lado do intercomunicador e um alçapão abre-se e Hugo cai com um grito. Ouve-se um baque, muito lá em baixo. Branco carrega num botão do intercomunicador.
HUGO (V.O.): Aaaaaah! As minhas costas.
BRANCO: Vá lá. Não sejas choramingas. Estava só a demonstrar à nova funcionária o que é que fazemos a quem nos desilude.
HUGO (V.O.): Mas dantes isto tinha um colchão!...
BRANCO: Não te queixes, tive de vender o colchão para combater a crise. Também queres sempre tudo... Vá. Vem para cima e depressinha que vais ter de fazer um relatório inteiro de Área Projecto para hoje à tarde. Hum?
Branco vira-se para Dora.
BRANCO: E pronto foi isto.
DORA: Uau! Isto foi giro? Posso?...
BRANCO: Hunnnfff... Ok, está bem. Mas é só desta vez. (Carrega de novo no intercomunicador.) Filipe, chega cá.
Filipe entra na sala.
BRANCO: Dá cinco passoas para a frente e um passo de bebé para a direita, pode ser?
Filipe faz o que lhe ordenam. Dora, então, carrega no botão e o alçapão abre-se. Filipe cai pelo buraco com um grito semelhante ao de Hugo.
HUGO (O.S.): (Muito ao longe) Não! Não! Não! Não! Não! Não! Não! Não!
Ouve-se um baque e o som de uma pessoa a cair em cima de outra. O alçapão fecha-se.
DORA: LOL. Isto é giro! Muito obrigada.
BRANCO: Já sabe qual é o trabalho a fazer.
DORA: Fazer um relatório para hoje à tarde, eu ouvi.
BRANCO: Muito bem. Até logo.
DORA: Até logo.
Dora abre a porta e sai.
Não percam o próximo capítulo: Capítulo 5 - O Poder das Flores
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Capítulo 3 - Chá e Cruzes
Diana foi uma ex-delegada da nossa turma e é, tal como as suas duas amigas uma típica tia da Avenida dos EUA. É uma personagem praticamente nova.
A Doroteia é uma das maiores personagens da outra história. Toda a gente que vem planear homicídios vai à Doroteia's Tea House (o nome dela é outro, mas não resisti a fazer a piada) para os delinear. Porque é que vão lá? Porque ninguém suspeita que se planeiem homicídios numa casa de chá. Tal como a Miss Marple prova, isto é uma falácia. Em proporções gigantes.
Os hitmen de Branco, acabam por explodir com a casa de chá dela quando tentam escapar de Fernando Sanches, o senhor do mal que foi lá comer um par de tostas, pois tinha deixado queimar o pequeno almoço.
Quanto ao Tomás, Maria da Alegria e Filó são tudo personagens novas. A Maria da Alegria é a embaixadora do Vaticano que sucedeu à Natacha referida no capítulo anterior. Em Janeiro ficaremos a saber mais dela.
A Filó era uma professora hedionda que nós tivemos e era obcecada com burocracia e chorava de comoção quando os meninos queques apresentavam os seus trabalhos. É tudo o que têm para saber.
Cena 4
Um jornal que diz: “ELEIÇÕES NA F&I” dobra-se para mostrar a cara de Alice. Alice está com as amigas, Lili e Joana Roza numa casa de chá. Mas... ‘Pera aí... Esta não é?... Pois é! É mesmo o Doroteia’s Tea House, totalmente remodelado desde a grande explosão que houve quando Prata espirrou.
JOANA: Sinceramente, que falta de chá. Aparecer com aquele vestido horroroso. E aquela banana. Nem quero pensar nisso.
LILI: Ainda por cima numa cerimónia daquelas! Há que manter o nível! Ela parecia um palhaço!
ALICE: Meninas... Acabei de ter uma ideia estupenda.
JOANA: Conte-nos lá, miga.
ALICE: Aquele possidónio do Manecas ‘tá parvo de todo. Então não é que vai fazer eleições?
LILI: Não posso!
ALICE: Juro... E então o que é que eu pensei? Podia-me candidatar eu. Imaginem nos outdoors: “Alice a Presidente!” Que acham?
JOANA: Mas que ideia esplêndida, miga.
ALICE: (Chamando por Doroteia) Dori, pode chegar aqui, querida?
Doroteia aparece, empurrando um cake-walk.
DOROTEIA: Diga.
ALICE: (Apontando para o chá) Pode dizer-me o que é isto?
DOROTEIA: Chá preto.
ALICE: Não tem por aí nada que dê para celebrar? Champanhe?...
DOROTEIA: Ahn... Não. Mas se quizer posso trazer-lhe scones. Quer?
ALICE: Que fantástico! Traga três.
Cena 5
Alice despede-se, toda sorrisos, das amigas que se vão embora. Assim que as duas desaparecem da vista o sorriso de Alice morre, a cara descai e os olhos reviram.
ALICE: (Num tom de voz completamente diferente) Argh! Ainda bem que já se foram embora! Não as suporto! Doroteia, chega cá.
Doroteia aproxima-se e senta-se à frente de Alice.
DOROTEIA: Conta lá.
ALICE: Oh, meu Deus. Estou farta daquelas lontras... Uma com a religião e a outra com as compras, é de endoidecer! Ó... Já estou com cãibras de estar a sorrir!
DOROTEIA: Mas então vais candidatar-te a Presidente da F&I?
ALICE: Claro! Deves estar a achar! Chamem-me parva! Finalmente vou poder pôr este país no sítio. Nunca perdoei o facto do Branco ter deixado de apoiar o clube que tem o MEU nome! Ele vai arrepender-se tanto!...
Cena 6
Uma badalada retumba no ar seco e fresco da manhã. O sino, lento e pesado, dá as horas. Pássaros elevam-se no ar. Do interior do Mosteiro de São Vicente de Fora ergue-se, como uma ameaça, um canto gregoriano. Quatro pessoas atravessam um corredor alto, largo, de pedra e azulejo. Á frente, vem Maria da Alegria, seguida por Tomás Caldeira. Estão a ser ladeados por dois padres, cujas batinas adejam à sua volta, como os dois grandes corvos que acompanharam o cadáver de São Vicente. As suas passadas são apressadas, urgentes. Subitamente, os quatro viram à esquerda, para outro interminável corredor. Maria da Alegria vai compenetrada, sempre a olhar em frente, fixos num ponto do infinito. Tomás vai olhando para os lados, tentando compreender o que é que se passa, á medida que as arcadas de pedra se sucedem umas atrás das outras Os dois padres estão impassíveis, como dois guarda-costas profissionais. O som dos seus passos perde-se nos longos corredores do Mosteiro.
TOMÁS: Mas, o que é que se passa, posso saber?
MARIA DA ALEGRIA: Não. Fui apenas convocada para te trazer até aqui. Tudo o que se passar dentro estas paredes, será entre ti e o alto diplomata que veio do Vaticano, precisamente para falar contigo.
TOMÁS: Do Vaticano? Mas quem é? Decerto que saberás alguma coisa, Maria.
MARIA DA ALEGRIA: Como embaixatriz do Vaticano, nada mais te poderei dizer, são assuntos de extrema importância, tanto para nós, como para o Mundo. Já estou a falar demais. As paredes têm ouvidos, e nenhuma parede tem mais ouvidos do que a de uma cúria.
Ao fundo do corredor existe uma porta enorme e pesada de madeira esculpida. A maçaneta está tão polida e tão brilhante que reflecte o sol que entra pela janela à sua direita. Pelo chão, agora coberto por uma passadeira vermelha, estão semeados grandes rectângulos de luz solar. Os quatro param em frente à porta.
MARIA DA ALEGRIA: A partir daqui não te posso acompanhar. Terás de ser tu, e só tu a avançar.
Então, Maria da Alegria mete as duas mãos nos ombros de Tomás e olha profundamente para ele, como se ele fosse o seu filho, prestes a ir para a frente de batalha.
MARIA DA ALEGRIA: Boa sorte. E que Deus te acompanhe.
Maria da Alegria deixa cair as mãos. Tomás olha em volta, inspira fundo e agarra na maçaneta. Ele empurra a porta que se abre e penetra na outra divisão.
Ele fecha a porta atrás de si. Está numa sala enorme. Ao fundo, um retrato gigantesco do Sumo Pontífice cobre a parede de cima a baixo, enchendo a sala com a sua presença austera. Ao fundo da sala, está uma grande secretária de mogno e por detrás dela, num cadeirão de madeira e veludo está sentada uma pequena e sombria figura. Aos ouvidos de Tomás chega um pequeno soluço, como se a pessoa à sua frente estivesse a chorar.
Tomás olha em volta, como que pedindo socorro. Então, toma consciência que não pode voltar a sair nem sequer poderá chamar alguém. Que fazer? Tomás inclina-se ligeiramente para o lado e com um relutante sorriso amarelo, tenta chamar a atenção do enviado do Vaticano.
TOMÁS: Ahm... Desculpe... Por acaso precisa de ajuda?
A pessoa à sua frente levanta a cabeça e Tomás cala-se imediatamente quando se apercebe da identidade do seu interpelador. É Filó.
FILÓ: Não, não é preciso, obrigada. Estava só aqui a ler um relatório, tão bonito, tão bem feito. (Funga) Isto já passa. Sente-se.
Tomás olha para a emissária e só então é que repara numa pequena cadeira discreta colocada à frente de Filó, do lado oposto da massiva secretária. Tomás percorre a sala (o que ainda demora um tempo considerável) e senta-se, ficando cara a cara com Filó. Esta recompõe-se e olha para Tomás.
FILÓ: Muito bem. Vamos tratar do que interessa. Presumo que veja as notícias.
TOMÁS: Sim...
FILÓ: Então, está a par que o presidente da companhia que gere este país, a F&I, vai fazer as suas primeiras eleições desde a sua instituição, há 18 anos.
TOMÁS: Com certeza.
FILÓ: Por muito que nos custe admitir, Duarte Branco não é um homem que esteja do lado da Igreja Católica. Quanto aos outros candidatos...
TOMÁS: Outros? Mas como é que já há outros candidatos que ainda não foram anunciados?
FILÓ: A Igreja Católica tem muitos ramos, e a informação circula rapidamente por eles. (Mudando de tom.) Um deles só se vai candidatar por vingança, portanto não será, sem dúvida, uma pessoa em quem a Igreja confiará. Um cão raivoso nunca consegue guardar as suas ovelhas. A segunda candidata, já deve ter ouvido falar nela, é a Alice Mesquita d’Orey. Sabemos que é cumpridora dos preceitos religiosos, mas não tem a capacidade de ser um bom apoiante da Igreja Católica. Seria estar a apostar na cavalo errado, não sei se me faço entender. Quanto ao último, é um músico ligeiro... e ateu. Dificilmente Sua Santidade quereria dar apoio a um candidato com tal curriculum...
TOMÁS: E então?
FILÓ: Só nos resta uma opção, concorrermos com o nosso próprio candidato às Presidenciais na F&I. E quem melhor para representar a Santa Igreja que o senhor: Tomás Caldeira.
TOMÁS: Eu, Excelência? Eu não tenho valores para tal tarefa. Com certeza poderá encontrar alguém mais capaz do que eu.
FILÓ: Como quem?, por exemplo...
TOMÁS: A Maria da Alegria. Tem desenvolvido um trabalho espectacular como diplomata e...
FILÓ: (Cortando a palavra) A Maria, como embaixatriz do Vaticano, nunca se poderá candidatar a tal posto. Seria uma tremenda afronta para o Estado português aceitar tal proposta. Parecia que o Vaticano quereria estar a controlar o país.
TOMÁS: (Sorrindo) Mas, não será isso que a Santa Sé quer fazer ao nomear-me candidato?
FILÓ: Sem dúvida. Mas de uma maneira muito mais subtil, terá de o admitir.
TOMÁS: Mas mesmo assim... Tem de haver outra pessoa. A Natacha Machado. Afinal de contas, corre-lhe no sangue...
FILÓ: Acredite. Por muito boa que a Natacha possa ser... enfim... a Cúria Romana quer um candidato com seriedade. Duvido que candidatos que pulem frequentemente e convivam com bonecada fofinha sejam um exemplo de seriedade. Como vê... o senhor é tudo o que temos.
TOMÁS: Muito bem.
FILÓ: E não se esqueça. Esta e muitas das conversas que teremos no futuro, nunca irão existir. Ninguém poderá saber do que foi arranjado dentro destas quatro paredes.
Filó e Tomás levantam-se.
FILÓ: Aceita a sua eleição canónica como candidato à presidência da F&I por parte da Santa Igreja Católica e Apostólica Romana?
TOMÁS: Aceito, em nome do Senhor.
Então Filó, abre os reposteiros da janela mais próxima, enchendo a sala de luz. Depois abre a janela, que dá para a Feira da Ladra e anuncia ao Mundo, com os braços abertos.
FILÓ: Annuntio vobis gaudium magnum: Habemus candidem!
A feira por debaixo da janela continua na mesma. Ninguém reparou em Filó.
FEIRANTE (O.S.): Velharias! Vendo velharias! Velharias novas e semi-novas!
Filó pára por um momento, comtemplativamente, como alguém que ficou muito orgulhoso do que fez. Depois, desfaz-se a chorar. Tomás aproxima-se de Filó.
TOMÁS: Mas, desculpe. Está mesmo a sentir-se bem?
FILÓ: (Soluçando convulsivamente) Sim. Estes momentos enchem-me de alegria. E pensar que te conheci em pequenino... Sempre soube que ias chegar longe.
Então a cara de Filó contorse-se toda antes de voltar a começar a chorar como uma Madalena arrependida, enquanto se recolhe de novo para a sala.
FILÓ: Tão crescido que ele está... (Mais choro) Isto já passa. Alguém tem um lenço de papel?...
A Doroteia é uma das maiores personagens da outra história. Toda a gente que vem planear homicídios vai à Doroteia's Tea House (o nome dela é outro, mas não resisti a fazer a piada) para os delinear. Porque é que vão lá? Porque ninguém suspeita que se planeiem homicídios numa casa de chá. Tal como a Miss Marple prova, isto é uma falácia. Em proporções gigantes.
Os hitmen de Branco, acabam por explodir com a casa de chá dela quando tentam escapar de Fernando Sanches, o senhor do mal que foi lá comer um par de tostas, pois tinha deixado queimar o pequeno almoço.
Quanto ao Tomás, Maria da Alegria e Filó são tudo personagens novas. A Maria da Alegria é a embaixadora do Vaticano que sucedeu à Natacha referida no capítulo anterior. Em Janeiro ficaremos a saber mais dela.
A Filó era uma professora hedionda que nós tivemos e era obcecada com burocracia e chorava de comoção quando os meninos queques apresentavam os seus trabalhos. É tudo o que têm para saber.
Cena 4
Um jornal que diz: “ELEIÇÕES NA F&I” dobra-se para mostrar a cara de Alice. Alice está com as amigas, Lili e Joana Roza numa casa de chá. Mas... ‘Pera aí... Esta não é?... Pois é! É mesmo o Doroteia’s Tea House, totalmente remodelado desde a grande explosão que houve quando Prata espirrou.
JOANA: Sinceramente, que falta de chá. Aparecer com aquele vestido horroroso. E aquela banana. Nem quero pensar nisso.
LILI: Ainda por cima numa cerimónia daquelas! Há que manter o nível! Ela parecia um palhaço!
ALICE: Meninas... Acabei de ter uma ideia estupenda.
JOANA: Conte-nos lá, miga.
ALICE: Aquele possidónio do Manecas ‘tá parvo de todo. Então não é que vai fazer eleições?
LILI: Não posso!
ALICE: Juro... E então o que é que eu pensei? Podia-me candidatar eu. Imaginem nos outdoors: “Alice a Presidente!” Que acham?
JOANA: Mas que ideia esplêndida, miga.
ALICE: (Chamando por Doroteia) Dori, pode chegar aqui, querida?
Doroteia aparece, empurrando um cake-walk.
DOROTEIA: Diga.
ALICE: (Apontando para o chá) Pode dizer-me o que é isto?
DOROTEIA: Chá preto.
ALICE: Não tem por aí nada que dê para celebrar? Champanhe?...
DOROTEIA: Ahn... Não. Mas se quizer posso trazer-lhe scones. Quer?
ALICE: Que fantástico! Traga três.
Cena 5
Alice despede-se, toda sorrisos, das amigas que se vão embora. Assim que as duas desaparecem da vista o sorriso de Alice morre, a cara descai e os olhos reviram.
ALICE: (Num tom de voz completamente diferente) Argh! Ainda bem que já se foram embora! Não as suporto! Doroteia, chega cá.
Doroteia aproxima-se e senta-se à frente de Alice.
DOROTEIA: Conta lá.
ALICE: Oh, meu Deus. Estou farta daquelas lontras... Uma com a religião e a outra com as compras, é de endoidecer! Ó... Já estou com cãibras de estar a sorrir!
DOROTEIA: Mas então vais candidatar-te a Presidente da F&I?
ALICE: Claro! Deves estar a achar! Chamem-me parva! Finalmente vou poder pôr este país no sítio. Nunca perdoei o facto do Branco ter deixado de apoiar o clube que tem o MEU nome! Ele vai arrepender-se tanto!...
Cena 6
Uma badalada retumba no ar seco e fresco da manhã. O sino, lento e pesado, dá as horas. Pássaros elevam-se no ar. Do interior do Mosteiro de São Vicente de Fora ergue-se, como uma ameaça, um canto gregoriano. Quatro pessoas atravessam um corredor alto, largo, de pedra e azulejo. Á frente, vem Maria da Alegria, seguida por Tomás Caldeira. Estão a ser ladeados por dois padres, cujas batinas adejam à sua volta, como os dois grandes corvos que acompanharam o cadáver de São Vicente. As suas passadas são apressadas, urgentes. Subitamente, os quatro viram à esquerda, para outro interminável corredor. Maria da Alegria vai compenetrada, sempre a olhar em frente, fixos num ponto do infinito. Tomás vai olhando para os lados, tentando compreender o que é que se passa, á medida que as arcadas de pedra se sucedem umas atrás das outras Os dois padres estão impassíveis, como dois guarda-costas profissionais. O som dos seus passos perde-se nos longos corredores do Mosteiro.
TOMÁS: Mas, o que é que se passa, posso saber?
MARIA DA ALEGRIA: Não. Fui apenas convocada para te trazer até aqui. Tudo o que se passar dentro estas paredes, será entre ti e o alto diplomata que veio do Vaticano, precisamente para falar contigo.
TOMÁS: Do Vaticano? Mas quem é? Decerto que saberás alguma coisa, Maria.
MARIA DA ALEGRIA: Como embaixatriz do Vaticano, nada mais te poderei dizer, são assuntos de extrema importância, tanto para nós, como para o Mundo. Já estou a falar demais. As paredes têm ouvidos, e nenhuma parede tem mais ouvidos do que a de uma cúria.
Ao fundo do corredor existe uma porta enorme e pesada de madeira esculpida. A maçaneta está tão polida e tão brilhante que reflecte o sol que entra pela janela à sua direita. Pelo chão, agora coberto por uma passadeira vermelha, estão semeados grandes rectângulos de luz solar. Os quatro param em frente à porta.
MARIA DA ALEGRIA: A partir daqui não te posso acompanhar. Terás de ser tu, e só tu a avançar.
Então, Maria da Alegria mete as duas mãos nos ombros de Tomás e olha profundamente para ele, como se ele fosse o seu filho, prestes a ir para a frente de batalha.
MARIA DA ALEGRIA: Boa sorte. E que Deus te acompanhe.
Maria da Alegria deixa cair as mãos. Tomás olha em volta, inspira fundo e agarra na maçaneta. Ele empurra a porta que se abre e penetra na outra divisão.
Ele fecha a porta atrás de si. Está numa sala enorme. Ao fundo, um retrato gigantesco do Sumo Pontífice cobre a parede de cima a baixo, enchendo a sala com a sua presença austera. Ao fundo da sala, está uma grande secretária de mogno e por detrás dela, num cadeirão de madeira e veludo está sentada uma pequena e sombria figura. Aos ouvidos de Tomás chega um pequeno soluço, como se a pessoa à sua frente estivesse a chorar.
Tomás olha em volta, como que pedindo socorro. Então, toma consciência que não pode voltar a sair nem sequer poderá chamar alguém. Que fazer? Tomás inclina-se ligeiramente para o lado e com um relutante sorriso amarelo, tenta chamar a atenção do enviado do Vaticano.
TOMÁS: Ahm... Desculpe... Por acaso precisa de ajuda?
A pessoa à sua frente levanta a cabeça e Tomás cala-se imediatamente quando se apercebe da identidade do seu interpelador. É Filó.
FILÓ: Não, não é preciso, obrigada. Estava só aqui a ler um relatório, tão bonito, tão bem feito. (Funga) Isto já passa. Sente-se.
Tomás olha para a emissária e só então é que repara numa pequena cadeira discreta colocada à frente de Filó, do lado oposto da massiva secretária. Tomás percorre a sala (o que ainda demora um tempo considerável) e senta-se, ficando cara a cara com Filó. Esta recompõe-se e olha para Tomás.
FILÓ: Muito bem. Vamos tratar do que interessa. Presumo que veja as notícias.
TOMÁS: Sim...
FILÓ: Então, está a par que o presidente da companhia que gere este país, a F&I, vai fazer as suas primeiras eleições desde a sua instituição, há 18 anos.
TOMÁS: Com certeza.
FILÓ: Por muito que nos custe admitir, Duarte Branco não é um homem que esteja do lado da Igreja Católica. Quanto aos outros candidatos...
TOMÁS: Outros? Mas como é que já há outros candidatos que ainda não foram anunciados?
FILÓ: A Igreja Católica tem muitos ramos, e a informação circula rapidamente por eles. (Mudando de tom.) Um deles só se vai candidatar por vingança, portanto não será, sem dúvida, uma pessoa em quem a Igreja confiará. Um cão raivoso nunca consegue guardar as suas ovelhas. A segunda candidata, já deve ter ouvido falar nela, é a Alice Mesquita d’Orey. Sabemos que é cumpridora dos preceitos religiosos, mas não tem a capacidade de ser um bom apoiante da Igreja Católica. Seria estar a apostar na cavalo errado, não sei se me faço entender. Quanto ao último, é um músico ligeiro... e ateu. Dificilmente Sua Santidade quereria dar apoio a um candidato com tal curriculum...
TOMÁS: E então?
FILÓ: Só nos resta uma opção, concorrermos com o nosso próprio candidato às Presidenciais na F&I. E quem melhor para representar a Santa Igreja que o senhor: Tomás Caldeira.
TOMÁS: Eu, Excelência? Eu não tenho valores para tal tarefa. Com certeza poderá encontrar alguém mais capaz do que eu.
FILÓ: Como quem?, por exemplo...
TOMÁS: A Maria da Alegria. Tem desenvolvido um trabalho espectacular como diplomata e...
FILÓ: (Cortando a palavra) A Maria, como embaixatriz do Vaticano, nunca se poderá candidatar a tal posto. Seria uma tremenda afronta para o Estado português aceitar tal proposta. Parecia que o Vaticano quereria estar a controlar o país.
TOMÁS: (Sorrindo) Mas, não será isso que a Santa Sé quer fazer ao nomear-me candidato?
FILÓ: Sem dúvida. Mas de uma maneira muito mais subtil, terá de o admitir.
TOMÁS: Mas mesmo assim... Tem de haver outra pessoa. A Natacha Machado. Afinal de contas, corre-lhe no sangue...
FILÓ: Acredite. Por muito boa que a Natacha possa ser... enfim... a Cúria Romana quer um candidato com seriedade. Duvido que candidatos que pulem frequentemente e convivam com bonecada fofinha sejam um exemplo de seriedade. Como vê... o senhor é tudo o que temos.
TOMÁS: Muito bem.
FILÓ: E não se esqueça. Esta e muitas das conversas que teremos no futuro, nunca irão existir. Ninguém poderá saber do que foi arranjado dentro destas quatro paredes.
Filó e Tomás levantam-se.
FILÓ: Aceita a sua eleição canónica como candidato à presidência da F&I por parte da Santa Igreja Católica e Apostólica Romana?
TOMÁS: Aceito, em nome do Senhor.
Então Filó, abre os reposteiros da janela mais próxima, enchendo a sala de luz. Depois abre a janela, que dá para a Feira da Ladra e anuncia ao Mundo, com os braços abertos.
FILÓ: Annuntio vobis gaudium magnum: Habemus candidem!
A feira por debaixo da janela continua na mesma. Ninguém reparou em Filó.
FEIRANTE (O.S.): Velharias! Vendo velharias! Velharias novas e semi-novas!
Filó pára por um momento, comtemplativamente, como alguém que ficou muito orgulhoso do que fez. Depois, desfaz-se a chorar. Tomás aproxima-se de Filó.
TOMÁS: Mas, desculpe. Está mesmo a sentir-se bem?
FILÓ: (Soluçando convulsivamente) Sim. Estes momentos enchem-me de alegria. E pensar que te conheci em pequenino... Sempre soube que ias chegar longe.
Então a cara de Filó contorse-se toda antes de voltar a começar a chorar como uma Madalena arrependida, enquanto se recolhe de novo para a sala.
FILÓ: Tão crescido que ele está... (Mais choro) Isto já passa. Alguém tem um lenço de papel?...
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Capítulo 2 - O Fim dos Paranóia
Estes, se vocês procurarem neste blogue vão ver uma entrada sobre eles. (Provavelmente não estão minimamente interessados mas eu vivo bem com isso) Posso dizer que um deles, que aparecia na outra história está em Paris e portanto não conquistou os direitos de permanecer nesta história. O Hugo nesta história não tem um papel tão activo como na anterior, em que era procurado pela polícia e por uma anarquista louca por ele e capaz de fazer tudo para o encontrar. O Hugo nesta história, até perto do fim, em que ele vai ter um papel vital, estará relegado a um papel secundário, a não ser para cenas de slapstick.
O Vasco é daquelas alminhas que se aparentam ser duronas por fora, mas são manteiga por dentro. Era o poeta da turma e normalmente era ele que escrevia as letras para as músicas dos Paranóia.
O Matos é uma personagem bestial pois é muito auto-suficiente... desde que esteja alguém por trás a ver quando é que ele cai. Para não falar que quando fez 14 anos (como tem uma maluqueira política) uma das prendas de anos foi inscrever-se numa dessas juventudes políticas. E por isso, nada melhor que a Bárbara (que na outra história apenas fazia um cameo) para ir com ele na sua campanha política. A Bárbara é daquelas raparigas que leva toda a gente à frente. E no subtexto, percebe-se que o Matos está apaixonadíssimo pela Bárbara só que ela está sempre a mandá-lo para trás.
É melhor não falar mais. Leiam.
Cena 2
Um jornal rodopia em direcção ao espectador e abre-se mostrando a manchete.
ARDINA (V.O.): Primeiras eleições no F&I desde sempre! Duarte Branco recandidata-se ao cargo de chefia! Sondagens mostram 100% de aprovação por parte do eleitorado. Extra! Extra!
Nesse momento, o jornal é agarrado pelo ardina que começa a distribuir os seus jornais grátis pelos carros, competindo com os outros dois ardinas de jornais grátis diferentes para ver quem é que distribui mais. Hugo, dentro do seu Smart cor-de-rosa abre a janela para receber os jornais, mas os ardinas enfiam-nos tão à pressa que leva com os três jornais na cara, dois nos olhos e um nos dentes, deixando-o inconsciente.
ARDINA: (Gritando pelo cruzamento fora) Notícias chocantes! Não vai crer nos seus olhos!
O semáforo passa a verde e os carros começam a andar. O único que fica parado é o de Hugo, por razões óbvias. Os carros atrás dele apitam para Hugo avançar, acabando por desistir e passar ao lado rogando pragas ao condutor desmaiado.
Cena 3
Hugo, segurando num rolo de papel e ainda esfregando o olho dorido, entra na garagem onde os Paranóia, ex-Punkada e ex-Missa se reúnem. Lá dentro estão Vasco, o baterista e Matos, o vocalista.
VASCO: Olá, Hugo! Porque é que te demoraste tanto?
HUGO: Foram as notícias.
MATOS: Encheram-te o olho?
HUGO: Ahah! Muito engraçado... Ou é impressão minha ou há algo de diferente aqui?
VASCO: Talvez por o Fonfom se ter ido embora? Ele agora deu em menino fino e vai passear para Paris, para Esmirna, e deixa-nos cá, a lidar com as consequências.
HUGO: Mas isso é natural. Ouve, o Kurt Cobain não deixou os Nirvana quando arranjou um bilhete para o Paraíso?
MATOS: Sim, daquele tipo de Paraíso Celeste.
HUGO: Coitado, fez uma bad trip... Mas quer dizer, nós aguentamo-nos. Ele era só o baixista, eu também sei tocar baixo! Os NOFX tiveram montes de elementos! Sobrevivemos quando a Natacha nos deixou para se dedicar à caridade a tempo inteiro!
MATOS: Pois sim, sofremos uma quebra de 70% nas vendas, só para ela ir fazer greves em laranjais!
HUGO: Olhem, não estamos aqui para falar de tristezas, olhem. Acabo de vir da fotocopiadora, olhem como ficou o nosso poster.
Hugo pega no rolo de papel e desdobra-o à frente dos outros. Vêem-se Fonfom, Vasco, Hugo e Matos em poses verdadeiramente espectaculares com os instrumentos que tocam, num fundo roxo e amarelo. Por cima das cabeças deles está escrito:
Paranöia
VASCO: Paranöia?
HUGO: Claro! Com um trema, tudo fica mais fixe. Os Blue Öyster Cult também usam um! E os Motörhead também!
MATOS: Isso não faz sentido. Com o trema, o nome da banda fica “Paranâia”. Parecemos um bando de atrasados da Madeira.
HUGO: Mas qual é o mal de ter o trema?!
MATOS: Nenhum, visto eu ir sair da banda.
Cai um silêncio incrédulo e algo incomodativo na sala. Um grilo canta algures na sala. Matos agarra numa lata de Raid e, rapidamente, pulverisa um dos braços do sofá em que está sentado. Ouve-se uma tosse muito pequenina e fininha e depois fica tudo em silêncio.
VASCO: OK, tu estás a gozar...
MATOS: Não, não... Foi muito bom o tempo que passei convosco, mas tenho outros projectos pela frente.
VASCO: O quê? Não me digas que vais fazer uma carreira a solo!
MATOS: Mais ou menos... Vai ser a solo, mas não é na música. É na política. Hugo, tu deves ter visto as notícias...
HUGO: (Que parece estar a desenvolver um olho negro.) Ai que piada! Vê lá se não te cai um dentinho...
MATOS: Abriram as eleições para a F&I. E eu vou concorrer!
HUGO: Mas como? Só existe um partido no Parlamento.
MATOS: Como independente. Não tarda nada, a minha directora de campanha vai chegar...
Nesse momento Bárbara Barbosa abre a porta e entra na sala, também segurando num rolo de papel, preso com um elástico. Provavelmente é outro poster.
MATOS: Falai no mau!... Bárbara! Estávamos mesmo agora a perguntarmo-nos sobre o teu paradeiro.
BÁRBARA: Por acaso eu estive dois minutos por detrás da porta, à espera que falassem em mim. Só pela piada.
MATOS: Ah... (Vira-se para os outros) Já devem ter apercebido que ela é...
BÁRBARA: Sim, sim. Já toda a gente percebeu. Ninguém é assim tão tapado como tu.
MATOS: (Disfarçando) Ah! Esta Bárbara, sempre com piadas giras... Eu gosto muito dela.
BÁRBARA: O mesmo não se pode dizer de ti. Ai! Chega-te para lá, minorca!
MATOS: Eu sou alto! Já tenho um metro e sessenta!
BÁRBARA: Ena pá! Tanto?... Olha Matos, vai procurar os teus seis amigos à mina e depois vão para casa em fila indiana e a cantar, pode ser, hum?...
MATOS: Agora a sério, tens aí o meu poster?
BÁRBARA: Está aqui.
Bárbara retira o elástico que prende o papel e revela o poster de Matos, muito ao estilo Obama, só que em verde e a dizer "Esperança".
MATOS: O quê? Verde?!
BÁRBARA: Não, a “Esperança” é de que cor? Castanha, queres ver?
MATOS: Mas verde é a cor dos lagartos... Daqueles que têm um estádio que parece uma casa de banho!
BÁRBARA: Ah sim. Vamos lá fazer um poster todo vermelho, para condizer com o Benfica e o Comunismo.
MATOS: O quê? Comunista?! Nunca!!! Vermelho?! Que cor horrível! Tens razão, verde fica melhor. Aliás, a primeira medida que vou tomar assim que chegar à F&I é mudar o Benfica para verde e o Sporting para vermelho.
VASCO: (Grita) Calem-se vocês os dois! Agora quem fala sou eu!
Bárbara e Matos ficam a olhar para Vasco, parados.
VASCO: (Grita) Matos! Tu não vais a lado nenhum! Tu vais continuar com a banda e não sais! Se tu saíres a banda nunca mais se vai reerguer. Os Paranóia nunca mais vão poder voltar a tocar.
Matos parece pensar por um bocadinho.
MATOS: Agora a sério, lamento imenso, mas tenho peixes maiores a apanhar. (Para Bárbara) Vamos?
BÁRBARA: Vamos, à minha frente, temos muito que fazer.
Bárbara, empurrando Matos à sua frente sai da sala, deixando Vasco e Hugo, abandonados. Hugo ainda segura no poster da recentemente dissolvida banda. Vasco levanta-se e prepara-se para se ir embora.
HUGO: Também tu?
VASCO: É escusado. Lutei tanto por isto... Tanto...
HUGO: Que se lixem eles os dois! Nós podemos fazer uma banda, tu e eu!
Vasco vira-se para os instrumentos abandonados e estende os braços como se os fosse abraçar.
VASCO: (Canta) I was a fool to believe...
HUGO: (Sem paciência) Oh, meu Deus...
VASCO: A fool to believe/It all ends today!/Yes, it all ends…/ Today…
Hugo entretanto, largou o poster e agarrou nas suas coisas.
HUGO: Olha, se tu vais ficar aí, eu tenho trabalho a fazer na F&I, liga-me quando te tiveres decidido.
Vasco cai de joelhos com os braços abertos e continua a cantar como se não fosse nada. Hugo, farto, sai.
VASCO: Gloomy Sunday/With shadows I spend it all/My heart and I/Have decided to end it all…
O Vasco é daquelas alminhas que se aparentam ser duronas por fora, mas são manteiga por dentro. Era o poeta da turma e normalmente era ele que escrevia as letras para as músicas dos Paranóia.
O Matos é uma personagem bestial pois é muito auto-suficiente... desde que esteja alguém por trás a ver quando é que ele cai. Para não falar que quando fez 14 anos (como tem uma maluqueira política) uma das prendas de anos foi inscrever-se numa dessas juventudes políticas. E por isso, nada melhor que a Bárbara (que na outra história apenas fazia um cameo) para ir com ele na sua campanha política. A Bárbara é daquelas raparigas que leva toda a gente à frente. E no subtexto, percebe-se que o Matos está apaixonadíssimo pela Bárbara só que ela está sempre a mandá-lo para trás.
É melhor não falar mais. Leiam.
Cena 2
Um jornal rodopia em direcção ao espectador e abre-se mostrando a manchete.
ARDINA (V.O.): Primeiras eleições no F&I desde sempre! Duarte Branco recandidata-se ao cargo de chefia! Sondagens mostram 100% de aprovação por parte do eleitorado. Extra! Extra!
Nesse momento, o jornal é agarrado pelo ardina que começa a distribuir os seus jornais grátis pelos carros, competindo com os outros dois ardinas de jornais grátis diferentes para ver quem é que distribui mais. Hugo, dentro do seu Smart cor-de-rosa abre a janela para receber os jornais, mas os ardinas enfiam-nos tão à pressa que leva com os três jornais na cara, dois nos olhos e um nos dentes, deixando-o inconsciente.
ARDINA: (Gritando pelo cruzamento fora) Notícias chocantes! Não vai crer nos seus olhos!
O semáforo passa a verde e os carros começam a andar. O único que fica parado é o de Hugo, por razões óbvias. Os carros atrás dele apitam para Hugo avançar, acabando por desistir e passar ao lado rogando pragas ao condutor desmaiado.
Cena 3
Hugo, segurando num rolo de papel e ainda esfregando o olho dorido, entra na garagem onde os Paranóia, ex-Punkada e ex-Missa se reúnem. Lá dentro estão Vasco, o baterista e Matos, o vocalista.
VASCO: Olá, Hugo! Porque é que te demoraste tanto?
HUGO: Foram as notícias.
MATOS: Encheram-te o olho?
HUGO: Ahah! Muito engraçado... Ou é impressão minha ou há algo de diferente aqui?
VASCO: Talvez por o Fonfom se ter ido embora? Ele agora deu em menino fino e vai passear para Paris, para Esmirna, e deixa-nos cá, a lidar com as consequências.
HUGO: Mas isso é natural. Ouve, o Kurt Cobain não deixou os Nirvana quando arranjou um bilhete para o Paraíso?
MATOS: Sim, daquele tipo de Paraíso Celeste.
HUGO: Coitado, fez uma bad trip... Mas quer dizer, nós aguentamo-nos. Ele era só o baixista, eu também sei tocar baixo! Os NOFX tiveram montes de elementos! Sobrevivemos quando a Natacha nos deixou para se dedicar à caridade a tempo inteiro!
MATOS: Pois sim, sofremos uma quebra de 70% nas vendas, só para ela ir fazer greves em laranjais!
HUGO: Olhem, não estamos aqui para falar de tristezas, olhem. Acabo de vir da fotocopiadora, olhem como ficou o nosso poster.
Hugo pega no rolo de papel e desdobra-o à frente dos outros. Vêem-se Fonfom, Vasco, Hugo e Matos em poses verdadeiramente espectaculares com os instrumentos que tocam, num fundo roxo e amarelo. Por cima das cabeças deles está escrito:
Paranöia
VASCO: Paranöia?
HUGO: Claro! Com um trema, tudo fica mais fixe. Os Blue Öyster Cult também usam um! E os Motörhead também!
MATOS: Isso não faz sentido. Com o trema, o nome da banda fica “Paranâia”. Parecemos um bando de atrasados da Madeira.
HUGO: Mas qual é o mal de ter o trema?!
MATOS: Nenhum, visto eu ir sair da banda.
Cai um silêncio incrédulo e algo incomodativo na sala. Um grilo canta algures na sala. Matos agarra numa lata de Raid e, rapidamente, pulverisa um dos braços do sofá em que está sentado. Ouve-se uma tosse muito pequenina e fininha e depois fica tudo em silêncio.
VASCO: OK, tu estás a gozar...
MATOS: Não, não... Foi muito bom o tempo que passei convosco, mas tenho outros projectos pela frente.
VASCO: O quê? Não me digas que vais fazer uma carreira a solo!
MATOS: Mais ou menos... Vai ser a solo, mas não é na música. É na política. Hugo, tu deves ter visto as notícias...
HUGO: (Que parece estar a desenvolver um olho negro.) Ai que piada! Vê lá se não te cai um dentinho...
MATOS: Abriram as eleições para a F&I. E eu vou concorrer!
HUGO: Mas como? Só existe um partido no Parlamento.
MATOS: Como independente. Não tarda nada, a minha directora de campanha vai chegar...
Nesse momento Bárbara Barbosa abre a porta e entra na sala, também segurando num rolo de papel, preso com um elástico. Provavelmente é outro poster.
MATOS: Falai no mau!... Bárbara! Estávamos mesmo agora a perguntarmo-nos sobre o teu paradeiro.
BÁRBARA: Por acaso eu estive dois minutos por detrás da porta, à espera que falassem em mim. Só pela piada.
MATOS: Ah... (Vira-se para os outros) Já devem ter apercebido que ela é...
BÁRBARA: Sim, sim. Já toda a gente percebeu. Ninguém é assim tão tapado como tu.
MATOS: (Disfarçando) Ah! Esta Bárbara, sempre com piadas giras... Eu gosto muito dela.
BÁRBARA: O mesmo não se pode dizer de ti. Ai! Chega-te para lá, minorca!
MATOS: Eu sou alto! Já tenho um metro e sessenta!
BÁRBARA: Ena pá! Tanto?... Olha Matos, vai procurar os teus seis amigos à mina e depois vão para casa em fila indiana e a cantar, pode ser, hum?...
MATOS: Agora a sério, tens aí o meu poster?
BÁRBARA: Está aqui.
Bárbara retira o elástico que prende o papel e revela o poster de Matos, muito ao estilo Obama, só que em verde e a dizer "Esperança".
MATOS: O quê? Verde?!
BÁRBARA: Não, a “Esperança” é de que cor? Castanha, queres ver?
MATOS: Mas verde é a cor dos lagartos... Daqueles que têm um estádio que parece uma casa de banho!
BÁRBARA: Ah sim. Vamos lá fazer um poster todo vermelho, para condizer com o Benfica e o Comunismo.
MATOS: O quê? Comunista?! Nunca!!! Vermelho?! Que cor horrível! Tens razão, verde fica melhor. Aliás, a primeira medida que vou tomar assim que chegar à F&I é mudar o Benfica para verde e o Sporting para vermelho.
VASCO: (Grita) Calem-se vocês os dois! Agora quem fala sou eu!
Bárbara e Matos ficam a olhar para Vasco, parados.
VASCO: (Grita) Matos! Tu não vais a lado nenhum! Tu vais continuar com a banda e não sais! Se tu saíres a banda nunca mais se vai reerguer. Os Paranóia nunca mais vão poder voltar a tocar.
Matos parece pensar por um bocadinho.
MATOS: Agora a sério, lamento imenso, mas tenho peixes maiores a apanhar. (Para Bárbara) Vamos?
BÁRBARA: Vamos, à minha frente, temos muito que fazer.
Bárbara, empurrando Matos à sua frente sai da sala, deixando Vasco e Hugo, abandonados. Hugo ainda segura no poster da recentemente dissolvida banda. Vasco levanta-se e prepara-se para se ir embora.
HUGO: Também tu?
VASCO: É escusado. Lutei tanto por isto... Tanto...
HUGO: Que se lixem eles os dois! Nós podemos fazer uma banda, tu e eu!
Vasco vira-se para os instrumentos abandonados e estende os braços como se os fosse abraçar.
VASCO: (Canta) I was a fool to believe...
HUGO: (Sem paciência) Oh, meu Deus...
VASCO: A fool to believe/It all ends today!/Yes, it all ends…/ Today…
Hugo entretanto, largou o poster e agarrou nas suas coisas.
HUGO: Olha, se tu vais ficar aí, eu tenho trabalho a fazer na F&I, liga-me quando te tiveres decidido.
Vasco cai de joelhos com os braços abertos e continua a cantar como se não fosse nada. Hugo, farto, sai.
VASCO: Gloomy Sunday/With shadows I spend it all/My heart and I/Have decided to end it all…
Não percam o próximo capítulo: Capítulo 3 - Chá e Cruzes
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