segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Capítulo 4 - Uma Nova Aquisição

A Dora Valente é uma personagem que nem sequer é mencionada na história anterior pois entrou na escola no 2º Período vinda de Sintra e era... estranha. Perfeita em termos de aulas e destrambelhada em termos pessoais. O pseudónimo dela aqui vem da Doreen Valiente, procurem por ela, por alguma razão é.
Enfim. Tenho dito.


Cena 7

Dora Valente está sentada à frente de Branco. Estão ambos no Gabinete espaçoso e ricamente mobilado do último. Branco está inclinado para a frente, os cotovelos apoiados na sua secretária e as mãos unidas, com os nós dos polegares encostados aos seus lábios, prescrutando a rapariga à sua frente. Dora, por sua vez, segura num capacete e está a olhar, de certa forma, curiosa para Branco, com a cabeça ligeiramente inclinada para a esquerda.

BRANCO: A senhora entende que tem um curriculum maravilhoso. Para quê vir trabalhar para aqui? Sabendo que eu pago uma miséria aos meus funcionários e os obrigo a trabalhar que nem uns escravos...
DORA: Ah... Só porque fica perto de casa. Eu moro já aqui ao lado. Questões práticas... E também... Todos os empregos que existem em Portugal são da F&I, não vejo qualquer razão para ir para outro lado.
BRANCO: Hum...
DORA: LOL...

Cai um silêncio pesado na sala.

DORA: Quer uma pastilha?
BRANCO: É de quê?
DORA: Hoje é de... (verifica o rótulo da embalagem) framboesa.
BRANCO: Pode ser.

Dora atira o pacote a Branco. Este apanha-o a meio do ar, tira uma pastilha e atira de novo o pacote a Dora. Esta agarra o pacote e também tira uma pastilha.

BRANCO: Obrigado.
DORA: De nada.

Cai de novo um grande silêncio na sala, desta vez entrecortado pelo som de mastigar e de um ou outro balão que é soprado por parte de um deles.

BRANCO: Já agora, aproveito para dizer que estamos numa empresa muito selectiva em relação aos seus funcionários. Desde já quero mostra-lhe o que é que eu faço aos funcionários que me desiludem. Venha para este lado da secretária.

Dora levanta-se e vem para ao pé de Branco. Este, carrega no botão do intercomunicador e fala para o seu interior.

BRANCO: Ó minha lesma repugnante, vem cá para cima.
HUGO (V.O.): (Suspirando) Sim, chefe.

Branco larga o botão do intercomunicador e vira-se para Dora.

BRANCO: A propósito, esta vai ser a pessoa com a qual a senhora vai trabalhar. Ou melhor, contra o qual vai trabalhar.
DORA: Contra?
BRANCO: Sim, contra. Na F&I acreditamos na competição e não na cooperação. Se houver cooperação, os funcionários desleixam-se e saem para ir tomar café e coisas dessas. Se os obrigarmos a competir uns contra os outros, esmeram-se no trabalho que lhes foi dado, só para manter o emprego.

A porta abre-se e entra Hugo.

HUGO: O que é que quer de mim, Mestre.
BRANCO: (Virando-se para Dora) Já somos amigos à muito tempo... (Para Hugo) Avança... aí uns cinco passos.

Hugo dá cinco passos para a frente.

BRANCO: Agora dá um passo de bebé para a direita.

Hugo dá um passo de bebé para a direita. Branco então carrega num botão vermelho ao lado do intercomunicador e um alçapão abre-se e Hugo cai com um grito. Ouve-se um baque, muito lá em baixo. Branco carrega num botão do intercomunicador.

HUGO (V.O.): Aaaaaah! As minhas costas.
BRANCO: Vá lá. Não sejas choramingas. Estava só a demonstrar à nova funcionária o que é que fazemos a quem nos desilude.
HUGO (V.O.): Mas dantes isto tinha um colchão!...
BRANCO: Não te queixes, tive de vender o colchão para combater a crise. Também queres sempre tudo... Vá. Vem para cima e depressinha que vais ter de fazer um relatório inteiro de Área Projecto para hoje à tarde. Hum?

Branco vira-se para Dora.

BRANCO: E pronto foi isto.
DORA: Uau! Isto foi giro? Posso?...
BRANCO: Hunnnfff... Ok, está bem. Mas é só desta vez. (Carrega de novo no intercomunicador.) Filipe, chega cá.

Filipe entra na sala.

BRANCO: Dá cinco passoas para a frente e um passo de bebé para a direita, pode ser?

Filipe faz o que lhe ordenam. Dora, então, carrega no botão e o alçapão abre-se. Filipe cai pelo buraco com um grito semelhante ao de Hugo.

HUGO (O.S.): (Muito ao longe) Não! Não! Não! Não! Não! Não! Não! Não!

Ouve-se um baque e o som de uma pessoa a cair em cima de outra. O alçapão fecha-se.

DORA: LOL. Isto é giro! Muito obrigada.
BRANCO: Já sabe qual é o trabalho a fazer.
DORA: Fazer um relatório para hoje à tarde, eu ouvi.
BRANCO: Muito bem. Até logo.
DORA: Até logo.

Dora abre a porta e sai.

Não percam o próximo capítulo: Capítulo 5 - O Poder das Flores

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