segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Capítulo 2 - O Fim dos Paranóia

Estes, se vocês procurarem neste blogue vão ver uma entrada sobre eles. (Provavelmente não estão minimamente interessados mas eu vivo bem com isso) Posso dizer que um deles, que aparecia na outra história está em Paris e portanto não conquistou os direitos de permanecer nesta história. O Hugo nesta história não tem um papel tão activo como na anterior, em que era procurado pela polícia e por uma anarquista louca por ele e capaz de fazer tudo para o encontrar. O Hugo nesta história, até perto do fim, em que ele vai ter um papel vital, estará relegado a um papel secundário, a não ser para cenas de slapstick.
O Vasco é daquelas alminhas que se aparentam ser duronas por fora, mas são manteiga por dentro. Era o poeta da turma e normalmente era ele que escrevia as letras para as músicas dos Paranóia.
O Matos é uma personagem bestial pois é muito auto-suficiente... desde que esteja alguém por trás a ver quando é que ele cai. Para não falar que quando fez 14 anos (como tem uma maluqueira política) uma das prendas de anos foi inscrever-se numa dessas juventudes políticas. E por isso, nada melhor que a Bárbara (que na outra história apenas fazia um cameo) para ir com ele na sua campanha política. A Bárbara é daquelas raparigas que leva toda a gente à frente. E no subtexto, percebe-se que o Matos está apaixonadíssimo pela Bárbara só que ela está sempre a mandá-lo para trás.
É melhor não falar mais. Leiam.

Cena 2

Um jornal rodopia em direcção ao espectador e abre-se mostrando a manchete.

ARDINA (V.O.): Primeiras eleições no F&I desde sempre! Duarte Branco recandidata-se ao cargo de chefia! Sondagens mostram 100% de aprovação por parte do eleitorado. Extra! Extra!

Nesse momento, o jornal é agarrado pelo ardina que começa a distribuir os seus jornais grátis pelos carros, competindo com os outros dois ardinas de jornais grátis diferentes para ver quem é que distribui mais. Hugo, dentro do seu Smart cor-de-rosa abre a janela para receber os jornais, mas os ardinas enfiam-nos tão à pressa que leva com os três jornais na cara, dois nos olhos e um nos dentes, deixando-o inconsciente.

ARDINA: (Gritando pelo cruzamento fora) Notícias chocantes! Não vai crer nos seus olhos!

O semáforo passa a verde e os carros começam a andar. O único que fica parado é o de Hugo, por razões óbvias. Os carros atrás dele apitam para Hugo avançar, acabando por desistir e passar ao lado rogando pragas ao condutor desmaiado.


Cena 3

Hugo, segurando num rolo de papel e ainda esfregando o olho dorido, entra na garagem onde os Paranóia, ex-Punkada e ex-Missa se reúnem. Lá dentro estão Vasco, o baterista e Matos, o vocalista.

VASCO: Olá, Hugo! Porque é que te demoraste tanto?
HUGO: Foram as notícias.
MATOS: Encheram-te o olho?
HUGO: Ahah! Muito engraçado... Ou é impressão minha ou há algo de diferente aqui?
VASCO: Talvez por o Fonfom se ter ido embora? Ele agora deu em menino fino e vai passear para Paris, para Esmirna, e deixa-nos cá, a lidar com as consequências.
HUGO: Mas isso é natural. Ouve, o Kurt Cobain não deixou os Nirvana quando arranjou um bilhete para o Paraíso?
MATOS: Sim, daquele tipo de Paraíso Celeste.
HUGO: Coitado, fez uma bad trip... Mas quer dizer, nós aguentamo-nos. Ele era só o baixista, eu também sei tocar baixo! Os NOFX tiveram montes de elementos! Sobrevivemos quando a Natacha nos deixou para se dedicar à caridade a tempo inteiro!
MATOS: Pois sim, sofremos uma quebra de 70% nas vendas, só para ela ir fazer greves em laranjais!
HUGO: Olhem, não estamos aqui para falar de tristezas, olhem. Acabo de vir da fotocopiadora, olhem como ficou o nosso poster.

Hugo pega no rolo de papel e desdobra-o à frente dos outros. Vêem-se Fonfom, Vasco, Hugo e Matos em poses verdadeiramente espectaculares com os instrumentos que tocam, num fundo roxo e amarelo. Por cima das cabeças deles está escrito:

Paranöia

VASCO: Paranöia?
HUGO: Claro! Com um trema, tudo fica mais fixe. Os Blue Öyster Cult também usam um! E os Motörhead também!
MATOS: Isso não faz sentido. Com o trema, o nome da banda fica “Paranâia”. Parecemos um bando de atrasados da Madeira.
HUGO: Mas qual é o mal de ter o trema?!
MATOS: Nenhum, visto eu ir sair da banda.

Cai um silêncio incrédulo e algo incomodativo na sala. Um grilo canta algures na sala. Matos agarra numa lata de Raid e, rapidamente, pulverisa um dos braços do sofá em que está sentado. Ouve-se uma tosse muito pequenina e fininha e depois fica tudo em silêncio.

VASCO: OK, tu estás a gozar...
MATOS: Não, não... Foi muito bom o tempo que passei convosco, mas tenho outros projectos pela frente.
VASCO: O quê? Não me digas que vais fazer uma carreira a solo!
MATOS: Mais ou menos... Vai ser a solo, mas não é na música. É na política. Hugo, tu deves ter visto as notícias...
HUGO: (Que parece estar a desenvolver um olho negro.) Ai que piada! Vê lá se não te cai um dentinho...
MATOS: Abriram as eleições para a F&I. E eu vou concorrer!
HUGO: Mas como? Só existe um partido no Parlamento.
MATOS: Como independente. Não tarda nada, a minha directora de campanha vai chegar...

Nesse momento Bárbara Barbosa abre a porta e entra na sala, também segurando num rolo de papel, preso com um elástico. Provavelmente é outro poster.

MATOS: Falai no mau!... Bárbara! Estávamos mesmo agora a perguntarmo-nos sobre o teu paradeiro.
BÁRBARA: Por acaso eu estive dois minutos por detrás da porta, à espera que falassem em mim. Só pela piada.
MATOS: Ah... (Vira-se para os outros) Já devem ter apercebido que ela é...
BÁRBARA: Sim, sim. Já toda a gente percebeu. Ninguém é assim tão tapado como tu.
MATOS: (Disfarçando) Ah! Esta Bárbara, sempre com piadas giras... Eu gosto muito dela.
BÁRBARA: O mesmo não se pode dizer de ti. Ai! Chega-te para lá, minorca!
MATOS: Eu sou alto! Já tenho um metro e sessenta!
BÁRBARA: Ena pá! Tanto?... Olha Matos, vai procurar os teus seis amigos à mina e depois vão para casa em fila indiana e a cantar, pode ser, hum?...
MATOS: Agora a sério, tens aí o meu poster?
BÁRBARA: Está aqui.

Bárbara retira o elástico que prende o papel e revela o poster de Matos, muito ao estilo Obama, só que em verde e a dizer "Esperança".

MATOS: O quê? Verde?!
BÁRBARA: Não, a “Esperança” é de que cor? Castanha, queres ver?
MATOS: Mas verde é a cor dos lagartos... Daqueles que têm um estádio que parece uma casa de banho!
BÁRBARA: Ah sim. Vamos lá fazer um poster todo vermelho, para condizer com o Benfica e o Comunismo.
MATOS: O quê? Comunista?! Nunca!!! Vermelho?! Que cor horrível! Tens razão, verde fica melhor. Aliás, a primeira medida que vou tomar assim que chegar à F&I é mudar o Benfica para verde e o Sporting para vermelho.
VASCO: (Grita) Calem-se vocês os dois! Agora quem fala sou eu!

Bárbara e Matos ficam a olhar para Vasco, parados.

VASCO: (Grita) Matos! Tu não vais a lado nenhum! Tu vais continuar com a banda e não sais! Se tu saíres a banda nunca mais se vai reerguer. Os Paranóia nunca mais vão poder voltar a tocar.

Matos parece pensar por um bocadinho.

MATOS: Agora a sério, lamento imenso, mas tenho peixes maiores a apanhar. (Para Bárbara) Vamos?
BÁRBARA: Vamos, à minha frente, temos muito que fazer.

Bárbara, empurrando Matos à sua frente sai da sala, deixando Vasco e Hugo, abandonados. Hugo ainda segura no poster da recentemente dissolvida banda. Vasco levanta-se e prepara-se para se ir embora.

HUGO: Também tu?
VASCO: É escusado. Lutei tanto por isto... Tanto...
HUGO: Que se lixem eles os dois! Nós podemos fazer uma banda, tu e eu!

Vasco vira-se para os instrumentos abandonados e estende os braços como se os fosse abraçar.

VASCO: (Canta) I was a fool to believe...
HUGO: (Sem paciência) Oh, meu Deus...
VASCO: A fool to believe/It all ends today!/Yes, it all ends…/ Today…

Hugo entretanto, largou o poster e agarrou nas suas coisas.

HUGO: Olha, se tu vais ficar aí, eu tenho trabalho a fazer na F&I, liga-me quando te tiveres decidido.

Vasco cai de joelhos com os braços abertos e continua a cantar como se não fosse nada. Hugo, farto, sai.

VASCO: Gloomy Sunday/With shadows I spend it all/My heart and I/Have decided to end it all…
Não percam o próximo capítulo: Capítulo 3 - Chá e Cruzes

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