segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Capítulo 1 - Uma Linda Manhã

OK, esta foi a primeira cena que eu escrevi para o épico parvo denominado Dia de Eleições. Nela aparecem duas das personagens principais: o Branco e o Filipe. Vou vos situar rapidamente no panorama antes de vos dar a ler a cena.
O Duarte Branco... Esta é a personagem em torno da qual gira a história. É mau! É avarento! É megalómano! É explosivo! É naïf! E é o dono da empresa que controla Portugal! Essa empresa chama-se F&I, que é a sigla para Flamearrow & Icebow. Há um ano atrás, a Flamearrow e a Icebow eram facções rivais, mas com os acontecimentos que se seguiram às revoltas (uma longa história), a dona da Icebow (Meggy Martinez (que é o nome mafioso de "Martins")) abdicou do seu poder para seguir com a sua vida de aventuras pelo mundo fora. O Branco tem um alçapão deveras utilizado no seu gabinete para enviar para a cave (note-se que o seu gabinete é no 40º andar) todos aqueles que o aborreciam. Esse alçapão acabava numa sala de torturas, que entrou em desuso, desde que o último carrasco teve uma epifania e se foi embora para espalhar a alegria no Mundo (haveremos de ver esse "carrasco" lá mais para diante).
Quanto ao Filipe Nogueira... Bem... É o Secretário de Branco. É muito mais inteligente que o seu patrão, e também bastante calmo e sarcástico. Aguenta tudo o que o seu patrão lhe faz, porque sabe que Branco não consegue viver sem ele. Se eu tivesse de escolher uma personagem preferida em toda a história, seria este Filipe.
E ainda aparece uma personagem secundária que é a Marta Madeira que é a caricatura da pessoa que faz mais figuras no Mundo inteiro para passar despercebida.
Pronto... É isto...
Vamos ao Capítulo 1 (que, por acaso, também é uma única cena).

Cena 1

Está uma linda manhã numa bomba de gasolina da F&I. Quer dizer, linda, como quem diz... Uma bomba de gasolina também não consegue ser linda de maneira nenhuma, mas de todas as manhãs possíveis numa bomba de gasolina, esta consegue receber um “Bom +”. Mas não o será por muito tempo, pois...

BRANCO: (Berra) O quê?! Esse dinheiro TODO?! Por eu encher o meu depósito???

Eu não vos disse?...
Branco, o presidente da F&I está a berrar á frente do balcão, onde uma atarantada Marta tenta atender Branco e fugir dos olhares das pessoas que ficaram espantadas com a discussão. Não sabendo o que fazer, acaba por reagir de uma maneira muito estranha.
Branco está acompanhado de Filipe.

BRANCO: (Berra) Mas julga que eu sou o quê?! O Bill Gates??? Isto é indecente! Isto é um ROUBO!!!
MARTA: (Pondo um saco de papel pela cabeça abaixo, e sentando-se no chão, por detrás do balcão) Olhe o escândalo... não grite por favor...
BRANCO: (Berra ainda mais) Grito tudo o que eu quiser! E MAIS!...

Branco tacteia o balcão à procura duma coisa. Filipe inclina-se para a frente.

FILIPE: Está à procura de alguma coisa?
BRANCO: Onde é que está o botão do alçapão? HAN?! Onde é que ele está?
FILIPE: No seu gabinete, juntamente com o seu alçapão.

Branco olha em volta, como se, de repente, se tivesse apercebido que estava numa bomba de gasolina e não no seu gabinete. Marta pensando que a tempestade já parou e tira o saco da cabeça.

BRANCO: Boa! Quanto é que é?...
MARTA: (Levantando-se) 70 Euros...
BRANCO: (Brada) TANTO???

Branco berra de tal maneira que Marta volta a meter, muito rapidamente, o saco na cabeça e a baixar-se.

FILIPE: Será que tenho de o avisar de novo da sua pressão arterial?
BRANCO: A minha pressão arterial está óptima! PAGA!
FILIPE: O quê?! Mas quem anda com o Ferrari é o senhor.
BRANCO: Mas tu é que vais à pendura! Eu guio.
FILIPE: Só porque o senhor faz questão.
BRANCO: E EU FAÇO QUESTÃO QUE PAGUES!!!

Branco procura outra vez pelo botão no balcão da gasolineira, para depois se aperceber, de novo, que o muito usado utilitário está no seu gabinete, do outro lado da cidade. Filipe suspira e estende o dinheiro a Marta, que começara a retirar os azulejos do chão para escavar um buraco na terra.

MARTA: O... obrigada.
BRANCO: E já agora!

Marta dá um salto enorme. Branco tenta aproximar a sua cara o mais possível da atendedora.

BRANCO: Para a próxima, eu quero aqui um alçapão e um botão para o abrir. ENTENDIDO?!

Marta acena afirmativamente, muito rápida. Branco leva a mão ao expositor de chocolates e tira um Crunchie da prateleira.

BRANCO: E levo isto como um brinde!

Depois, Branco desembesta da loja a praguejar contra o dinheiro que se gasta com a gasolina, seguido pelo seu sempre calmo e suave secretário. Já na rua, pára junto ao Ferrari e vira-se para Filipe.

BRANCO: Já viste o dinheiro que se gasta aqui?
FILIPE: Pode crer que vi. Vou ter de passar uma semana a hamburguers do McDonald’s graças a isto.
BRANCO: (Desembrulhando o chocolate e começando a comê-lo) É ou não é uma vida lixada?... Sinceramente... O preço! Andam a roubar-me à grande!...
FILIPE: Sinto-me no dever de lhe dizer que, tal como o resto do país, esta bomba de gasolina pertence à Flamerrow & Icebow. Empresa da qual, por acaso, o senhor é dono.
BRANCO: Isto é uma vergonha... O que é que eu hei de fazer para não cobrar tão alto?
FILIPE: Baixar os preços?...

Branco engasga-se com o último pedaço de chocolate.

FILIPE: Ou talvez não...
BRANCO: Tenho de fazer alguma coisa por este país.
FILIPE: (Vagamente esperançoso) Vai sair da F&I?
BRANCO: É isso mesmo!

Filipe olha fixamente para Branco como se o Natal tivesse chegado mais cedo. Um coro angelical começa a tocar no fundo.

FILIPE: (Mal conseguindo conter o sorriso) O quê?... Vai mesmo sair?!
BRANCO: Claro que não!

Algures, a agulha do gira-discos que toca a música angelical interrompe a emissão com um ruído parecido ao de um balão molhado a desinchar. O Natal foi cancelado para Filipe.

BRANCO: Não vês? É genial! Eu, sendo líder da F&I, tenho o poder de propôr eleições para a eleição do novo líder da empresa, é não é? Afinal, nós vivemos numa democracia, não é assim?
FILIPE: Uma democracia de partido único... Chamado F&I.
BRANCO: Precisamente, sem nenhum partido a atrapalhar o esquema, serei automaticamente o líder da empresa. Mas entretanto, os eleitores, depois de uma campanha eleitoral a vender-lhes a minha imagem, com IVA e tudo, vão pensar que vêm por aí tempos prósperos, votando todos em mim e ficando com uma confiança espectacular para o futuro. E assim faço um país ficar mais contente! BRILHANTE! (Branco atira a cabeça para trás e dá uma gargalhada maníaca, com os braços erguidos para o Céu.) MUAHAHAHAHAHAHAHAH!!!

Um relâmpago cai por detrás de Branco enquanto o seu riso, anormalmente cavo, ecoa na bomba de gasolina.

FILIPE: Está um tempo estranho... Nem uma nuvem no céu e no entanto...
BRANCO: Entra, não há tempo a perder! Temos umas eleições a preparar! A primeira coisa a fazer é pôr o carro na garagem e ir encontrar o meu passe social.
FILIPE: Vai fazer campanha pelas ruas?
BRANCO: O quê? Não, não. Vou poupar dinheiro em gasolina, que é diferente!
Não percam o próximo Capítulo:
Capítulo 2 - O Fim dos Paranóia.

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