sexta-feira, 17 de julho de 2009

O Oito...

Se gosta dos filmes de acção do Manoel de Oliveira, haverá de adorar este filme. O antepenúltimo filme da saga é o perfeito exemplo do que acontece quando abandonam uma criança numa loja de doces. Neste caso David Yates é a criança e tudo o que rodeia o filme é a loja de doces.
Rebobinemos até à altura em que Robert Harris ainda era vivo. Chris Colombus, o realizador do primeiro Sozinho em Casa, fazia filmes com um orçamento jeitoso, não muito exorbitante, mas também nada de se lhe deitar fora. Tínhamos um elenco de luxo com partes sólidas e bem partidas para que cada um tivesse o seu quinhão de papel. John Williams compunha o Harry Potter. E o resultado eram filmes, que apesar de não primarem como bons filmes, tinham aquela sensação bonita e reconfortante de descoberta, sempre recheada de bom humor e fantasia e, apesar de dar, aqui ou ali, alguma sensação incomodativa de estarmos a ver um telefilme, sabia-nos bem à alma ver o Harry Potter e os seus amigos a viverem as suas aventuras em Hogwarts.
Veio Alfonso Cuarón. E eis que toda a gente começa a abandalhar o esquema. Primeiro, ao tentar criar um filme que se centrasse mais no desenvolvimento de personagens, acabou por secar todo o suco da história e o enredo descarrilou e saltaram algumas molas, e fizeram um óptimo hipogrifo e um péssimo lobisomem. Também, o papel de Dumbledore teve de ser atribuido ao Michael Gambon, que não tem metade da gentileza e da suavidade de Richard Harris (que era o Dumbledore perfeito. Ainda hoje, é Richard Harris que imagino quando ouço falar em Dumbledore). Gary Oldman foi uma óptima aquisição. E o David Thewlis também.
O quarto filme, apesar de inevitavelmente mais negro que os outros todos, consegue conciliar em parte o mundo mágico que Colombus descobriu (em 1492...). Brendan Gleeson dá uma ar de sua graça e Ralph Fiennes volta a fazer um maníaco homicida. O habitual. John Williams abandonou a série, talvez não para sempre, mas já foi o suficiente para me preocupar com o futuro da série.
E... eis que chega o quinto filme. E com ele o realizador David Yates. Note-se que Yates, até ao momento nunca tinha feito um filme a sério. Apenas tinha feito coisas para a televisão (a mais notável das quais, o telefilme Ligações Perigosas, que também foi transportado para o grande ecrã com Russel Crowe em Washington (e não em Londres).). POOOIS... E, de repente, Yates vê-se rodeado das maiores estrelas do cinema inglês
(deixa cá ver... Michael Gambon, Alan Rickman, Maggie Smith, Ralph Fiennes, Gary Oldman, Helena Bonham Carter, Brendan Gleeson, David Thewlis, Julie Walters, Jason Isaacs, Imelda Staunton, Emma Thompson, Robbie Coltrane, Warwick Davis, George Harris, Richard Griffiths e ainda vou a meio...)
e o que é que ele faz? Ajudado por um guião que deixa o Mundo a desejar, faz o pior dos filmes de Harry Potter, no qual só estavam bem três pessoas (Imelda Staunton, a fazer uma Umbridge no ponto, Helena Bonham Carter a fazer de louca e Evanna Lynch, uma estreante escolhida a dedo para fazer de Luna Lovegood.) e uma cena (a da possessão).
E depois vem este. Eu pergunto: «Onde é que está o encantamento e a "magia" na saga de Harry Potter? HUM?! Cadê a "magia"?» Chris Colombus, olhando agora em retrospectiva, fez realmente os filmes da série. Não só pela impecável adaptação (se bem que, sendo os livros mais pequenos, naturalmente seriam os mais fáceis de compactar) como também, a sensação de fantástico e de joie-de-vivre se foi perdendo.
Agora vocês dizem: Ouve lá! A série também vai ficando cada vez mais dramática e negra...
E eu respondo: Mas deixaram de ter a escrita redonda e bonacheirona de quem conta uma história com gosto? Ah, pois! Tomem lá. Foi um erro, pelo menos pela parte que me toca, terem retirado a série de mãos que soubessem fazer filmes desses e terem-na entregue a papalvos que fazem thrillers para a televisão. Isso tem um nome que é: "abandalhar o esquema".
Se tivessem entregue a série a mãos mais capazes, como Matthew Vaughn (que fez o bem-disposto Stardust, tudo sem descurar a intrincada plot-line de Neil Gaiman).
Agora, o Yates, repetindo a fórmula do quinto filme, fez o sexto. Grandes problemas aproximam-se de Hogwarts pois este é o ano em que Dumbledore morrerá. O único problema é que Yates pressupõe que todos nós já o sabemos (e, em parte, até é verdade) e então, faz o filme com a vivacidade e o ritmo da única cena que não aparece que é: o funeral de Dumbledore.
Então, em que consiste. Consiste em cenas de luta que aparecem, inexplicavelmente, sem uma música que condiga com a gravidade do que se passa, em longas cenas de pessoas a chorar, e em GRAAAAANDES planos em câmara lenta. E, no entanto, descura o essencial. Cenas dramáicas ou importantes são tratadas com o cuidado de: "Estão a ver esta cena? Óptimo. Vamos para a seguinte!". Cenas parecem deslocadas da história (Ginny e Harry... o que é que foi AQUILO?!) e outras aparecem sem fazer sentido (A Toca a arder? Dificilmente...).
Jim Broadbent aparece a fazer um Professor Slughorn, que parece tão esmagado pela direcção robotizada de Yates que parece que está dentro de uma camisa de forças (quem o vir a fazer de Harold Zidler, não vai acreditar nos seus olhos). Michael Gambon, tem um bom papel para fazer. E agarra-se a ele com unhas e dentes. Infelizmente muito do que ele tinha para dar foi destruído pela mesma direcção de "mete guião sai filme". Dos três principais, o único que ainda consegue agarrar bem a personagem é Emma Watson. Daniel Radcliffe, estou em crer que fomentado a tal desde o terceiro filme e encorajado também por Yates, demonstra um leque muito pouco variado de emoções, tornando o seu Harry Potter num protagonista fechado e aborrecido. Mas o verdadeiro terror do filme é, sem menor das dúvidas, Rupert Grint. Não sei o que é que aconteceu ao rapaz, se lhe subiu a fama à cabeça, mas desde o quinto filme que a sua representação de Ron Weasley vai de mal a pior, e a única cena boa dele é aquela em que ele está autorizado a exagerar.
Mas o que mais me dana é a gratuituidade com que eles destroem a Toca. Foi: "para juntar excitação ao filme". Eu percebo em parte. Se não juntassem "excitação" nalgum ponto deste filme, feito desta maneira, os novatos que nunca viram um Harry Potter em dias da vida adormeciam.
Mas haverá alguma coisa de bom no filme?
Há. E é o quê? O Alan Rickman, para começar. O Alan nota-se à distância que é um gozão de primeira (a versão de Robin Hood de Kevin Costner é o exemplo supremo, se bem que O Guia para a Galáxia, Heróis Fora de Órbita e Sweeney Todd também demonstrem o seu sentido de humor requintado. Ou aquela cena impagável no quarto Harry Potter...). E desta vez, com um papel bem maior do que o costume, teve a oportunidade de poder demonstrar grande parte do seu carisma. Ainda temos a Helena Bonham Carter, que rouba qualquer cena em que entre. E Tom Felton, que ultimamente se tinha dedicado a um papel de observador ou a breves cameos nos últimos Harry Potters, e dá uma performance bastante sólida de Malfoy, um miúdo aterrorizado que descobre, tarde demais, no que se meteu.
Muitos gags, envolvendo sobretudo o triângulo romântico entre Hermione, Ron e Lavender estão bem construídos e o tempo é perfeito entre a construção da piada e a punchline (mas são ingleses... do que é que estavam à espera?).
A direcção artística está muito bem feita e a cinematografia está bastante adequada para o filme. Os efeitos especiais, sem dúvida estão o melhor de tudo neste filme. A música, feita pelo pálido Nicholas Hooper é muito monocromática e não chega nem de longe ao génio de John Williams. A única música decente e adequada em todo o filme é "Dumbledore's Fairwell", aquando da homenagem ao director caído.
Finalmente, muitas das transições de cena para cena estão bem feitas. Verdade seja dita. Yates tem jeito para fazer transições. De resto... Hmmf....
Por conseguinte e por consequências, tudo isto vai redundar numa coisa: No total, numa escala de 1 a 10 dou-lhe .

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