segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Carta do Umbigo ao seu Gervásio

Não sei se sabem de uma coisa que anda por aí, à qual as pessoas gostam de chamar livro, chamado: Cartas do Gervásio ao seu Umbigo. Pois bem, eu tenho de as ler para Formação Humana. Que bom! Hã?... Que bom! O que é facto é que o livro é uma ode ao suicídio (ou apenas ao Xanax) numa linda manhã de sol. E nós temos de escrever uma cartinha ao Gervásio a dizer como é que estudamos. Pooois. É bonito, não é? Ter de escrever para um tipo que é um chaga e que tem um cabelo fantástico para apanhar a água do chão da casa-de-banho depois de um banho de imersão é mais que tortura. Mas eu tentei. E fiquei com um resultado parecido com isto:

Caro Gervásio.

Sim, antes que caias redondo no chão, deixa-me dizer-te que é o teu umbigo a responder. Não que eu tenha outras coisas de interessantes para fazer, como meter conversa com o duodeno, mas ele está com ar de quem engoliu uma colherada de bílis, portanto decidi fazer isto (que não acredito que estou a fazer, mas pronto). Aproveitei uns momentos do meu dia ocupadíssimo para escrever esta carta, peguei no meu portátil enquanto tu estavas a ressonar na aula de Relações Internacionais e cá estou eu a perder o meu tempo.
Eu sei que tu raramente me dás ouvidos, mas sinceramente gostava de te dar uns conselhos.
Primeiro: Arranja uma vida! Pensa por um bocadinho… Que raio de anti-social perde tempo a escrever ao seu umbigo?! Quer dizer, há pessoas que fazem surf, há pessoas que vão a festas, mas tu deves ser a única pessoa DO MUNDO a escrever cartas ao umbigo! Mas tu drogas-te? Eu já tentei perguntar ao teu coraçãozinho e aos teus pulmões, mas esses julgam-se muito superiores e o estômago está demasiado ocupado a digerir as suas mágoas. É que é preciso estar sob efeito de psicotrópicos (e daqueles fortes) para se escrever cartas a umbigos. Ou então não tens amigo nenhum. E como tu não me pareces ser daqueles que se drogam, só posso concluir que tu és um daqueles nerds que têm óculos que se parecem com fundos de garrafas, o cabelinho todo penteadinho, umas favinhas de fora e um corpo que parece ser capaz de atravessar uma tempestade sem se molhar mas que, devido à escoliose de andares a transportar sempre cinco toneladas e três quartos de livros, mais te pareces com a personificação de um ponto de interrogação. Eu só digo isto porque nunca te vi mais gordo. Estou sempre com o meu olhinho a olhar para a frente, para ter de evitar de reparar nos teus intestinos. Depois também deves ser daqueles tipos que vão nas faixas da esquerda das auto-estradas a 119 à hora, sem se desviar para os outros passarem, que atravessa sempre nas passadeiras e que recicla até os papelinhos da discoteca Rasputine que te prendem no limpa-pára-brisas. Depois admiras-te que um dia venha um tipo farto de pessoas como tu, e ele acelere para te atropelar enquanto procedes de risca branca para preta na passadeira, e, se falhar, vai a casa buscar o jipe e esmaga-te contra o vidrão. Ah, pois!
Segundo: Porque é que escreves dessa maneira IRRITANTE?! Pareces uma mistura de António Lobo Antunes com Cristopher Paolini, só que sem imaginação sequer para escrever sobre o que é que aconteceria nas histórias do Harry Potter se trocássemos o Ron por um copo para lápis. Quem é que descreve o love interest como “o sorrisinho metálico que empurrara o meu viver”? QUEM?! Atenção, não tenho nada contra as pessoas que usam aparelho, sobretudo porque enquanto elas falam, as ondas de rádio batem nos arames, fazem ressonância na boca e enquanto eles estão a dizer uma piada eu fico a saber como é que o tempo vai estar amanhã. São pessoas espectaculares, com um sorriso fantástico (desde que não tenham acabado de comer esparregado) e pronto. Agora, uma rapariga, que se pode presumir que seja bonita, mas tenha aparelho que estraga logo o ambiente de sorriso Pepsodent e tem o apaixonado a falar no sorriso metálico dela é demais! Haverá alguém no Mundo que goste de ficar com os dentes como se cada um deles fosse primo do Hannibal Lecter??? E como eu falo nesta expressão, também falo em outras! Mas que mal há em escrever como gente DECENTE??? É demasiado difícil? Ou simplesmente queres dar nas vistas? Se for pela primeira, ainda admito que para ti seja difícil agir como uma pessoa com todas as coisas nos seus lugares. Mas se fosse pela segunda diria que estás a fazer um óptimo trabalho. Só que pela negativa.
Quer dizer, eu dou por mim, inadvertidamente a encher chouriços mal leio “Caro Umbigo”. Isto porque eu sou um Umbigo fantástico, “polivalente”, como tu me descreverias. Mas o que é facto é que se tens todos esses atributos, bem podes esquecer a Kátia Vanessa (que de facto não tem um nome muito bonito, mas que não se distancia muito do teu). Aliás podes esquecer qualquer relacionamento no futuro! O que no teu caso é uma coisa boa, porque eu também estou seriamente preocupado com os teus colegas. E esse é o terceiro ponto que eu queria focar.
Terceiro (só para continuar a enumerar tópicos): Eu gostaria de saber que raio de colegas são os teus? Gervásio, Kátia Vanessa, Narcisa… Mas tu estudas onde? Na Universidade de Chelas??? È que pela concentração de nomes que assustam eu diria que só poderia ser aí. E não seria, de certeza no Brasil, porque senão a Kátia Vanessa seria a Edivalda, ou outro nome no género.
Mas as coisas mudam de figura quando vemos à lupa os teus colegas. Que raio de colegas é que são esses que dão a outros colegas a alcunha de “Bela Adormecida”? Quer dizer, que falta de imaginação, ou que NERDS que vocês são! Afinal vai ser necessário um bulldozer inteiro para vos esmagar a todos contra o Eco-ponto. E aos que sobrarem ainda irão bater neles com um caixote do lixo daqueles para resíduos orgânicos que encontramos ao lado dos restaurantes, que podem ser trancados por uma chavinha, não vão as cascas de batatas chatear-se de estar ali no escuro e fazer uma escadinha e sair dali para ir dar uma voltinha ao CascaiShopping.
Quarto e último (que eu já me estou a enervar com esta história): Eu acho muito bonito que tu organizes as tuas ideias para fazer um portfólio, mas eu gostaria que reparasses mais naquilo que fazes! Porque o que estás a fazer é estar a perder TEMPO precioso para poderes estudar a escrever cartas a um relevo da tua barriga! Ainda não tinhas reparado nessa, pois não? Portanto, deixa de escrever-me cartas, pode ser?

Um abraço dactilografado (também sou original)

U.

Durmam bem e não estudem porque isso esturrica neurónios desnecessariamente.

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