quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Kitchinette

Uma coisa que sempre me fez uma confusão enorme é a "cozinha molecular". Mas o que é que é? Juntam assim uma dezena de moléculas e faz-se a comida? E foi então que eu procurei na internet. Pelo que podemos ver à esquerda, eu não estava muito longe da verdade.

Mas o que é isto? Uma pessoa olha para isto e fica com fome com o tamanho minúsculo daquela coisa! Aquilo é um filho de um bife! Aquela coisa quando for grande quer ser um daqueles bifes com ovo à cavalo que escorregam por todos os cantos do prato. Eu cada vez que olho para aquilo, só me lembro das fotografias do Fernando Pessoa quando era pequenino, já vestidinho de preto, com um lencinho branco ao pescoço e um ar de profunda infelicidade a olhar para a fotografia como que a dizer: "Tirem-me daqui!". Eu não sei o que é que aquele bife me parece... com aquele amontoado de... aquilo que parece ser côco ralado em cima e mais umas quantas coisas malucas à Jackson Pollock pelo prato fora.
Mas o que é facto é que isto da cozinha molecular é uma coisa que ganha um significado totalmente diferente quando uma pessoa lê um artigo de jornal sobre ele. Quer dizer... na secção de hoje do jornal OJE (não, não é uma piada) leio uma crítica de gastronomia sobre um restaurante no terraço do Hotel Tivoli. Só por estarmos a falar do jornal OJE, não augura nada de bom, pois, como sabemos é o jornal dos yuppies. E é então que eu me aprecebo da magnitude do problema. Ao que parece anda por aí um "cozinheiro" chamado Luís Baena, que, pelo menos pelo que tenho lido é adepto dessa cozinha molecular, gosta de dar um toque pop à comida (a única maneira que eu me lembro de fazer comida pop é pôr o Roy Liechtenstein num espeto) e é especialista no humor subversivo na comida. Mas o que é isto de humor subversivo na comida? A comida vem a sorrir para a mesa, é? Mas se é isso, o Mushu, na Mulan faz o mesmo (com grilos incluídos na comida)! Então não percebo. Então eu chego à parte em que descrevem o almoço.
Vemos o nosso querido M. P., que escreveu a crítica (Não, Mafalda Neves, não é esse M. P. É outro.), no terraço a inspeccionar os pratos antes de comer. Pratos Vista Alegre, talheres Christoffle e copos Riedel, nada de muito ostensivo. É claro que sabemos que se, em vez de ter copos Riedel, tivesse Pilkington, eu não iria lá nem a tiro. E é então que lhe vem um desfile de horrores gastronómicos lhe é apresentado:
  1. O Mac Silva, um hamburger de bacalhau com ketchup.
  2. Uma bola de Berlim recheada com creme de santola.
  3. O Otedogue, uma salscha de camarão com uma bolacha salgada em forma de osso (não será necessário especificar que a bolacha é fabricada pela Pedigree Pal.).
  4. Um pastel de massa tenra de galinha, molejas de borrego e cogumelos morilles.
  5. Arroz carolino com leite-creme de berbigão à Bulhão Pato e berbigões em escabeche.
  6. O Toque Toque, uma pequena paródia ao bitoque (e quando digo pequena, falo a sério) em que temos um bifinho do lombo com um ovo de codorniz estrelado em cima.
  7. Uma caldeirada de peixe com um creme de juliana de lulas, sardinha crocante de azeite com sésamo.
  8. Um risotto de bacalhau, com um pastel de bacalhau feito com batata roxa e gengibre.
  9. Um pouco de carne de porco alentejano com uma folha de ouro comestível.
  10. Gelado de manjericão a acompanhar com um pão-de-ló com tomate liofilizado.
  11. Gelado de ketchup.

Depois disto tudo, pagamos 66€ por pessoa, com direito a transporte para o hospital e um vale de desconto para lavagens ao estômago.

Ah... Depois de uma porcaria como estas, até o refeitório do CSJB merece as três estrelas no guia Michelin.

Eu tinha mais coisas para dizer, mas esqueci-me delas, portanto fiquem ai à espera que eu me lembre delas. Adeus.

Sem comentários: