segunda-feira, 30 de março de 2009

Retórica, Tipografia e Estuque

Mas haverá algum crítico NO MUNDO que tenha o mínimo de sentido de humor? A resposta é: Não, não há.
The Spirit... Fui vê-lo a roer-me de medo. Já tinha visto as críticas na internet. Mas como ir ver o Bride Wars pareceu-me deprimente demais, fui ver este...
A publicidade toda prometia uma espécie de Sin City 1½... E é disto que eu estou à espera. O filme começou sério, pesado, como um film-noir... as pessoas começaram a falar... bem, que diálogo enfiado a martelo... meu Deus... tantos clichés... espero que não piore... o polícia não sabe representar... isto está a tornar-se ridículo... apareceu o Octopus... isto está REALMENTE RIDÍCULO... o herói e o vilão começam a lutar..........................................
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EI! Mas isto é feito para SER ridículo!
E a partir daí, o filme, quando foi entranhando aquela sensação de estranheza e ridículo, assim que já nos fez perceber que não é para ser levado a sério, começa a enlouquecer.
Este filme é um filme de cómicos (e de comics! Desculpem, não resisti...) e, como filme, a sua grande falha é ter um público sério e quadradão, que vem com ideias feitas para o filme e que teima em levar o filme a sério.
Não sei como é que as pessoas não se começaram a aperceber do humor subtil que pulula em The Spirit.
Não se aperceberam que os clones criados por Octopus têm nomes que começam a ficar cada vez mais estúpidos? Começam com Ethos, Pathos, Logos (as três componentes da retórica), depois continua por Termos (sim, como em: Campingaz), Matzos, Rancheros, Huevos, SOS, Fatsos, Dildos e acaba com os dois últimos clones sobreviventes que são precisamente: Adiós e Amigos.
Não se aperceberam que Sand Saref é um portmanteau de Sans Serifa, como o tipo de letra???
Não se deram conta que o Octopus e a Floss se vestem de coisas diferentes a cada cena???
Não VIRAM que o Spirit procura uma suspeita de homicídio através de uma fotocópia do seu "rabo perfeito" e que a única pessoa que o reconhece é um anão?!?!?!
Tiveram um AVC na cena em que o Spirit, para se salvar da morte certa (não, que isso seja problema...), e de uma multidão entusiástica a fazer figas para que ele caia do edifício abaixo tem de tirar o cinto e ainda começa a ver as suas calças a escorregarem pelas suas pernas abaixo?????????
MAS AS PESSOAS NÃO PERCEBEM UMA PIADA, NEM QUE A ESFREGUEMOS NAS SUAS CARAS?!
Tem problemas de história? Tem. Não digo que não. Mas uma comédia DESTAS, que é feita pelas piadas subtis (a cena em que Spirit fala da cidade como uma mãe é o início de uma das sequencias mais delirantes que vi). É uma comédia de clichés.
O herói é todo sorridente, tem dentes perfeitos (dos quais se gaba na televisão), é, até de certa forma, piroso, atrai mulheres como um íman atrai pregos e também não é uma cabecinha lá muito brilhante.
O vilão é alto, negro e assustador, é um cientista maluco, veste-se de samurai (numa cena delirante que parodia o animé), de nazi, de russo e de todo o tipo de vilões que os super-heróis americanos combatem... e AINDA quer governar o mundo para todo o sempre.
Ninguém nesta história é muito brilhante. Aliás, todos eles são medianamente estúpidos, como os bonecos dos Looney Tunes.
Samuel L. Jackson, Gabriel Macht e Scarlett Johansson estão demais (sobretudo Scarlett no uniforme nazi que só me fez lembrar a Helga do Allo Allo). A novata da polícia Morgenstern é das personagens mais cómicas dos últimos tempos, e faz-me lembrar o meu terceiro guião em que todas as personagens eram mais ou menos como ela. Só para verem o ponto a que chega, reparem nesta brilhante troca de palavras:

(A Polícia a fazer uma espera ao Octopus, têm todos pistolas. à frente estão o Comissário Dolan e Morgenstern. A última saca de uma arma ridiculamente grande e futurista)
Comissário Dolan: Mas, será que todas as mulheres nesta maldita cidade são completamente loucas?!
Morgenstern: Não, Comissário. Apenas estamos bem equipadas.

Não é um óptimo filme, porque não é. Mas é de chorar a rir. Por isso tudo, dou-lhe um .

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