Portanto, cá vai:
Austrália - Fui ver este, hoje, ao cinema. Não é nenhum Moulin Rouge! mas, mesmo assim ainda tem piada e está bem visto no ponto de vista de realização, em que vemos a história a ser contada pelos olhos de um miúdo e, não havendo magia, mas uma série de acasos que fazem com que o que pareça, aos olhos dele, realmente magia. E há cenas extremamente bem feitas como, por exemplo a cena do bombardeamento ou a cena do precipício (quando virem, percebem) que valem por, praticamente, todo o filme. Dou-lhe 6.
The Dark Knight - A obra-prima dos filmes dos super-heróis (dirigida por Christopher Nolan que tem alturas de génio, outras de flop, [Batman Begins é para esquecer]) com o Gary Oldman e o Heath Ledger a fazerem um papelão. Pela primeira vez na história do cinema de super-heróis conseguiu-se fazer algo que discuta temas como a moral sem se tornar um aborrecimento (como o Homem-Aranha 2 desperdiçou os seus cartuchos e não conseguiu acertar em nada). Grande parte do espectáculo é dado (claro) pelo Joker na sua versão mais Frank Miller e pelo forte drama de Harvey Dent (futuro Duas-Caras) quase apagando (embora não totalmente) os dilemas do próprio Batman (Christian Bale a nessecitar de uns rebuçados do Doutor Bayard). e o James Newton Howard fez um óptimo trabalho com a sua parte da banda sonora (A Little Push e Watch the World Burn são dois must-listens) Eu dou-lhe 9.
The Happening - M. Night Shyamalan é o grande órfão de Hollywood. Os seus filmes não rendem dinheiro e está a tornar-se uma espécie de artista incompreendido. Muitas pessoas dizem que não gostaram do filme. Não percebo nem porquê, nem como. Estavam à espera de um Cloverfield? O Shyamalan nunca foi desse género! A única parte realmente supérflua do filme é o video no i-Phone do homem a ser atacado pelo leão, porque, para além disso, nada está fora de sítio. Às vezes, Zooey Deschanel parece deslocada da realidade, mas ao longo que o filme avança a sua performance vai ganhando mais complexidade. E tudo acaba naquela cena verdadeiramente espectacular (agora a sério) em que os dois (vá lá... três) decidem morrer a ficar longe um do outro e nesse momento... zás... salvam-se. E, outra vez o James Newton Howard a fazer outro trabalho espectacular com a música (As minhas preferidas? Princeton, Mrs Jones e Be With You). Não é perfeito, mas também não é uma coisa horrorosa. Dou-lhe 8.
WALL-E - Desde A Bela e o Monstro que eu não via um filme de animação tão bom. Finding Nemo tem piada e não me perguntem do Ratatouille, porque eu não o vi. Mas WALL-E é uma história tão simples quanto fantástica. Com um humor muito apropriado, mas também sem perder a compostura, conta uma história de amor entre dois robôs: o inocente e curioso WALL-E e a querida mas terrível EVA. Acaba por ser uma história de uma grande poesia e é impossível que alguém não goste desta simples historia de amor. Dou-lhe 10.
Moulin Rouge! - Vocês já devem estar FARTOS das minhas referências constantes ao Moulin Rouge! mas eu ADORO este filme. É uma montanha russa de sentimentos e de espectáculo que nunca mais acaba. É frenético, explosivo, gritante. Para quê dizer mais? Vejam o El Tango de Roxanne (que é das melhores cenas de musical que já alguma vez vi) e calem-se enquanto eu dou 10 a isto.
Ponto de Mira - Uma versão de acção da ideia por detrás de um marco na história do cinema japonês: Rashomon (que quer dizer: "A Porta do Castelo") de Akira Kurosawa. A história passa-se em meia-hora e conta a história de um atentado ao Presidente dos EUA numa cimeira sobre o anti-terrorismo em Salamanca. Mas é contada de 6 pontos de vista diferentes: a dos jornalistas, dum guarda-costas do Presidente, dum polícia espanhol, dum turista americano, do Presidente dos EUA e dos terroristas. Claro, as pessoas têm de exercitar um pouco o seu "willing suspention of disbelief", e tem alguns erros como um muçulmano a exclamar: "Christ!". Mas tem uma das cenas de perseguição mais alucinantes que eu já vi no cinema (superada apenas por perseguições como a do Matrix Reloaded) e uma história de mistério que uma pessoa vai desvendando à medida que as peças se vão encaixando. E tudo isto acaba numa cena que, apesar de já saber como acaba, me arrepia sempre que a vejo que é a cena do clímax em que uma ambulância derrapa e vem na direcção de uma rapariga de 6 anos da qual aprendemos a gostar enquanto esta grita: "MAMÁAAAAAA!" Dou-lhe 7.
National Trasure 2 - The Book of Secrets - Eh pá. Esta história do National Treasure é assim a combinação de tudo o que podemos ter num filme de caça ao tesouro. É assim, uma mistura de Indiana Jones à moderna, Ocean's Eleven e uns pós de Código da Vinci (mas apenas a parte da história que lida com o FBI). Este 2, embora seja um pouco mais fraco que o primeiro, tem um humor espectacular ("Está aqui uma coisa na página." "Pois é. Diz: «mancha».") e a indispensável cena de perseguição está ainda melhor que a do primeiro. É claro que a fasquia subiu. Enquanto que no outro filme o Nicholas Cage só roubou a Declaração da Independência e fugiu do FBI, neste assalta o Palácio de Buckingham, a Casa Branca, a Biblioteca do Congresso e a sua própria casa (não estou a gozar), volta a fugir do FBI e ainda tem tempo para raptar o Presidente dos EUA. Também já morrem mais pessoas. Há três mortes neste filme (Uma delas é o Abraham Lincoln, no prólogo), enquanto que no outro só havia uma. Eu dou-lhe 6½.
O Código da Vinci - Esse não recebi para Natal mas vi na televisão enquanto tentava adormecer. Ron Howard (que deve ser dos piores realizadores de SEMPRE. Odiei o Apollo 13 e o Grinch era outro horror) fez o favor de fazer um filme ainda pior que o livro (por muito incrível que pareça, pois aquilo é o pesadelo de qualquer historiador [ex: A comunhão católica é baseado num ritual azteca. É que os aztecas andavam por cá 1500 anos antes de eles serem descobertos pelo mundo Ocidental.]) e só vale como thriller de casa-de-banho. Basicamente temos um Tom Hanks que parece estar sempre boquiaberto a cada coisa que lhe dizem, mas que não parece saber fazer mais nada. E isto não é o Tom Hanks a trabalhar. Isto é o Keanu Reeves quando lhe pisam um pé. Só tenho pena do Ian McKellen, o nosso querido Gandalf (e a única razão pela qual ainda vi este filme) que faz de mau e sai escorraçado ao pontapé de uma história sem pés nem cabeça que parece ser a única pessoa interessada em fazer melhor do que aquilo para que o contrataram. E o Jean Reno também não está mal, apesar de também ter tido aulas com o Keanu Reeves. Basicamente só vale pela musica do Hans Zimmer. E quando filmes só valem pela banda sonora, esqueçam. Dou-lhe 4 (pela soundtrack e pelo Ian McKellen porque o resto... flop).
***
Hogfather - Passemos para o mundo da literatura. Hogfather (Pai dos Porcos) é o 20º livro da série Discworld escrita com muito humor pelo Terry Pratchett. O Terry Pratchett é um tipo com ar de avozinho que tem um sentido de humor muito aguçado e povoa as suas histórias das personagens mais estranhas como Rincewind, o feiticeiro inepto e cobarde que se mete em sarilhos a cada virar de página; Granny Weatherwax, uma rude bruxa do campo, muito pragmática, realista e sarcástica; os feiticeiros da Unversidade Invisível que incluem um Bibliotecário que foi transformado em orangotango, um Tesoureiro que vê coisas (e tem de estar sempre a tomar Pílulas de Rãs Secas) e Mustrum Ridicully, o director da Universidade, um ser de tal maneira estúpido que é o mais lúcido e prático de todos. Neste livro temos o Hogfather (que é a versão discworldiana do Pai Natal) que é considerado supérfluo pelos gestores do Universo (uns tipos muito chatos e burocráticos chamados Auditores) e que, para acabar com ele, decidem contratar um Assassino (da Guilda dos Assassinos) deveras tresloucado chamado Teatime (não se diz Titáim, diz-se Tiatáimi) para ir atrás do Hogfather. O plano de Teatime começa a funcionar e o Hogfather começa a desaparecer. Deixando de existir um Hogfather, começa a haver espaço no Mundo para se acreditar em coisas diferentes como: o monstro que come uma meia para ficarmos com a outra desemparelhada, o "oh, meu Deus!" das ressacas e a Fada Alegre, uma depressiva que tenta pôr todo o Mundo alegre. A Morte, para impedir que as pessoas deixem de acreditar no Hogfather passa a vestir-se COMO o Hogfather e vai pela noite a distribuir presentes e a dizer HO HO HO. E tem de ser Susan, a neta adoptiva da Morte, que está a trabalhar como ama-seca, a impedir que os planos de Teatime e dos Auditores se concretizem.
Eu gostei deste até certo ponto. Eu acho que falhou no momento em que passaram a haver três clímaxes diferentes (dois deles envolvendo a mesma pessoa). Eu acho que a história teria ficado muito melhor (e já assim com clímaxes a mais) se só estivessem os dois primeiros. E, mesmo assim, a parte com o Teatime merecia estar menos fraquinha porque ele é dos melhores vilões que eu já alguma vez vi nas histórias do Discworld. Mas não deixa de ser um bom entretenimento, apesar de Terry Pratchett já ter escrito histórias ainda melhores. Dou-lhe 6.
Eu gostei deste até certo ponto. Eu acho que falhou no momento em que passaram a haver três clímaxes diferentes (dois deles envolvendo a mesma pessoa). Eu acho que a história teria ficado muito melhor (e já assim com clímaxes a mais) se só estivessem os dois primeiros. E, mesmo assim, a parte com o Teatime merecia estar menos fraquinha porque ele é dos melhores vilões que eu já alguma vez vi nas histórias do Discworld. Mas não deixa de ser um bom entretenimento, apesar de Terry Pratchett já ter escrito histórias ainda melhores. Dou-lhe 6.
Carrie - O primeiro livro publicado de Stephen King. Oscila entre a narrativa (como maior parte dos livros) e o livro epistolar (como o memorável Drácula de Bram Stoker). Há cenas fortes e outras cenas que chegam sem grande estrondo. Lembro-me, por exemplo, para cena forte temos a cena da morte da mãe de Carrie e para cena não tão forte temos a cena da morte de Billy Nolan e Chris Hargensen, os grandes maus da fita. A história está feita para sentirmos pena por Carrie e a sua fúria pelo facto de ser constantemente gozada e abusada na escola. Mas a partir do momento em que ela começa a destruir a cidade e o resto da história são quase apenas relatos do que aconteceu, a história perde gás e toda e qualquer simpatia por Carrie se vai esvaíndo lentamente. De todas as personagens até a que consegue capturar melhor a simpatia das pessoas é a Miss Desjardin, uma professora da escola de Carrie e Tommy Ross, o popular da escola a quem a namorada lhe pede para ir com Carrie ao Baile de Primavera. Devia ter ficado apenas pela narrativa e deixar os comunicados e interrogatórios de lado durante as cenas de destruição. Mata a história. E, sinceramente, preferi mil vezes o Misery. Eu dou-lhe um 5.
A Aventura de Comer - Nada de muito a dizer por aqui. Outra vez Quino, o criador de Mafalda, uma das melhores tiras de BD de sempre (só comparado a Calvin & Hobbes e, até certo ponto, Charlie Brown), a fazer um livro inteiro de paródia aos cozinheiros. Está ao nível de Quinoterapia (que faz a paródia aos médicos) e de Potentes, Prepotentes e Impotentes. Bem melhor que o penúltimo livro editado cá em Portugal: o Que Presente tão Inapresentável. Adoro a paródia que o Quino faz às iluminuras medievais. Dou-lhe 9.
O Santuário de Gondwana - Yves Sente e André Juillard... Bem. Como aconteceu a Uderzo e ao seu Astérix, as histórias de Blake e Mortimer têm vindo a decair desde a morte de E. P. Jacobs, o grande colaborador de Hergé. Juillard não tem o traço preciso de Jacobs, apesar de se tentar aproximar o mais possível, e consequentemente, as vinhetas não são tão visualmente apelativas como as de Jacobs. Sente, e já Van Damme tentaram incorporar as mulheres no Universo estritamente masculino de Blake e Mortimer. Até agora, a melhor personagem femenina em Blake e Mortimer foi a que apareceu no Caso Francis Blake (que, já agora, era obviamente baseado nos 39 Degraus de Hitchcock). Este livro... tenta ser O Enigma da Atlântida, sem conseguir dar todas as explicações. E, enquanto todas as histórias de Jacobs giravam em torno de uma máquina fenomenal (a máquina do tempo, uma máquina que alterasse a meteorologia, o telecomando de pessoas) sendo as únicas grandes excepções O Mistério da Grande Pirâmide e O Caso do Colar. Dos livros sem argumento de Jacobs, até o primeiro é o menos mau. A Conspiração Voronov e O Estranho Encontro (passados na URSS e nos EUA, por ironia) são dois livros para esquecer. Os Sarcófagos do Sexto Continente até é razoavelzinho, sobretudo pela segunda parte. Mas este Santuário de Gondwana parece ser o tomo 3 dos Sarcófagos, mas também parece ser uma aventura à parte. Deixamos o livro com uma sensação de "eu já vi isto" (tem inclusive a lata de reutilizar algumas vinhetas da Marca Amarela) e acabamos por a esquecer. Esperemos que A Maldição dos Trinta Dinheiros (tremam) seja melhor que este último. Para quem estiver interessado em conhecer os verdadeiros Blake e Mortimer... leiam antes A Marca Amarela e SOS Meteoros. Eu dou-lhe 5.
E pronto foi isto. E ainda tenho o Darjeeling Limited e o Castelo Andante de Howl para ver. Até lá!