Se há coisa bonita em Lisboa são as iluminações de Natal. Eu não consigo passar pela rua Augusta sem pensar que estou a assistir a um programa da Universidade Aberta ou da National Geografic interpolada por anúncios à Swarovski. Em contrapartida temos a Avenida de Roma ou a Avenida de Berna que estão umas tristezas em termos de decoração. Só falta, em vez de enfeites colocarem uma fiada de luzes de Natal com música à roda dos candeeiros (candeeiro sim, candeeiro não). E eu só posso meter aqui um textinho do Bruno Nogueira e do João Quadros sobre as iluminações de Natal que passou na edição do Tubo de Ensaio de 10 de Dezembro. Cá vai, e espero que se aborreçam de morte e... adeus:
"Olá... Hoje, abro o meu Livro de Reclamações no volume 6, página 280, para reclamar a plenos pulmões, (e, também, com a ajuda importante de parte dos brônquios) contra as decorações de Natal que por aí andam.
Eu já nem falo naquela moda PARVA, do Pai Natal pendurado do lado de fora da janela. Até há pessoas que penduram o Pai Natal na bandeira portuguesa que ainda está pendurada desde o Europeu. Eu, cada vez que vejo um Pai Natal, de saco às costas, a tentar entrar por uma varanda, sinto sempre que, para ficar mesmo bonito, ainda faltava uma rena a tentar arrombar a fechadura da porta do prédio, só para completar. Eu só consigo perceber esta ideia porque também tenho o meu lado exibicionista, e compreendo estas pessoas que apreciam ter um velho de barbas a espreitar pela janela do quarto. Mas isto também foi só um àparte, derivado a substâncias que se fumam a nível de coentros.
Eu não sei se já repararam, mas isto, longe vão os tempos em que as decorações de Natal só queriam alegrar e iluminar e não nos queriam vender nada. Hoje em dia, isto que temos nas nossas ruas, não são decorações de Natal, são logotipos de empresas, com luzes que piscam e um bocadinho de azevinho em cima. As luzes da árvore de Natal da ZON, só falta escreverem o custo de uma assinatura da box. Não pode ser. E a Praça do Comércio também está toda apanhadinha... Está vendida à TMN. A Praça do Comércio, neste momento, é da TMN. Tem é, lá, um bocadinho da Praça do Comércio, mas aquilo, basicamente é uma sede da TMN. E depois, mas esse, para mim, é o melhor de todos, que é: O Cristo Rei, quando uma pessoa vai a atravessar a ponte, e olha-se para o Cristo Rei, e tem uma saiinha com luzes da Samsung. Samsung! Uma saiinha com uns anjinhos... Mas onde é que nós estamos, pá?! Os miúdos já perguntam quando é que vem o senhor da TMN de barbas brancas que traz as prendas, e estão chateados porque a nossa árvore de Natal só tem bolas em vez de anúncios. Eu tive de ir pendurar uma placa a dizer Millenium, no lugar da estrela e luzes que tocam a música da Vodafone, senão eles não iam para a sala.
Isto tem de parar. Eu aposto que, a seguir vem o Presépio da Audi, ou da Volkswagen, com o novo Golf no lugar da vaca, e uma versão do São José a gasóleo e a Nossa Senhora a ter problemas em segurar a cabeça, não porque esteja com sono, mas porque lhe puseram o símbolo da Audi no lugar da auréola. Uma pessoa está à lareira, com os miúdos, na noite de Natal, a contar a história do senhor da Coca-Cola, que vem num trenó alugado à Avis, com seis renas gentilmente cedidas pelo Talho de Campo de Ourique.
Vamos parar com isso, está bem? Vamos parar com essa parvoíce de um dia para o outro, se for possível. Que estoirem todos. É preferível ir para a Avenida da Liberdade dar com a cabeça nas árvores, porque está escuro, do que ter um Menino Jesus que me ilumina, mas que está vestido com uma fralda Lindor para incontinentes. Está bom? Qualquer dia já estão a por intervalos para publicidade nas caixas de música para os bebás. O que também era de se pensar nisso. Adeus, e Bom Natal, da Ucal para todos."
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
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