sábado, 13 de dezembro de 2008

Frustração Musical 2 - O Nome da Rosa

Eu vou começar a falar sobre uma música que me marca todas as manhãs. Sobretudo pelo facto do meu cerebelo começar a tentar sair pelo meu umbigo sempre que oiço os primeiros acordes. A música chama-se: Rosa (Do Teu Jeito de Ser) e é da banda Classificados. Só pelo título promete. É assim tipo romance da Margarida Rebelo Pinto, responde a qualquer tipo de pergunta. Por exemplo: Quem é que vai chegar ao fim do livro sem ter tentado arrancar os olhos como auto-defesa e protecção da mente? “Sei Lá!”, “Pessoas como Nós”, “Vou Contar-te Um Segredo…”. Apesar de ser um título a atirar para o vitoriano não há ninguém que responda a “O que estás a ouvir?” desta maneira:
_Ah! É o Rosa (Do Teu Jeito de Ser) dos Classificados! É muito gira…
Então não é já razão mais do que suficiente para mandar um tipo que diga isto para uma instituição de apoio a deficientes mentais? Agora imaginem o que o Estado vai perder em dinheiro para a súbita enchente de pessoas no Júlio de Matos, por causa de uns Classificados. Sim, claro, porque como sabemos, vão já aí começar a dizer coisas dessas, porque isto é Portugal e é tudo muito fraquinho, muito tapadinho, já é hábito…
Mas pronto. Eu gosto muito desta música pois a letra podia ter sido escrita por mim, quando tinha 4 anos e mal sabia o significado de algumas palavras. E mesmo assim, não sei se… se teria este espírito poético tão profundo como o Serafim Borges (é assim que eu vou chamar ao meu primeiro filho. É Serafim e é Alguidar, que também é um nome muito bonito.) que escreveu esta música e a canta, todo feliz com a sua invenção.
Começa logo com: “Escrevi o teu nome na linha férrea, para que o pudesses ler. Mas tu passaste a cem à hora sem tempo para o ver.”. OK… Há pessoas que escrevam o nome das pessoas que amam nas árvores, nas paredes, nas portas das casas de banho públicas e na linha férrea. Se bem que as portas das casas de banho públicas também sejam um sítio extremamente romântico (Então ao pôr-do-sol… Ui! Até ferve!)… eu acho que a linha férrea não lhe fica atrás. Aliás, a linha férrea está no Top 10 dos sítios mais escritos. Só ultrapassado pela cara do Sócrates (mas que basicamente se limita a “Burro!” escrito na testa e uns bigodes muito grandes, tamanho 37, género Dalí). Quem é o energúmeno que vai escrever o nome da sua amada numa linha férrea? Que, como sabemos, é um sítio que dá muito nas vistas. As pessoas passam o dia a passear junto à linha férrea só para lerem o que lá está escrito! É vê-las em filinha indiana, muito lindas. Depois vêm um comboio elas têm de se agachar, ainda de vez em quando perdem um bracinho ou uma cabecinha (nada que não se resolva com um tubo de cola universal UHU disponível em qualquer Papelaria Fernandes), mas, assim que o comboio passa, elas levantam-se e lá vão elas todas contentinhas e lampeiras continuar a passear a ler o que está escrito nos carris.
Agora a sério. Não escrevam na linha férrea, é dum mau gosto desgraçado. Sobretudo porque a cada dez minutos passa um comboio por cima do nome da amada e isso quer dizer que nós gostaríamos de a ver espezinhada por um semi-rápido para Cascais de vez em quando… aí umas cento e catorze vezes por dia. Conclusão: Ele deve odiá-la. Não admira que ela passasse a cem à hora. Tinha decidido ir fazer o Interrail para a Sibéria só para o outro desgraçado não se poder aproximar mais dela! Ela estava, era, a fugir, que é diferente!
Depois, o nosso Serafim (lindo nome) o que é que faz. Dá numa de Volta a Portugal em Bicicleta! Tecnicamente ele faz o seguinte: “Fiz outra tentativa e escrevi no alcatrão. Mas nessa tosca avenida não passou o teu avião.” Isto tem a sua lógica. Eu nunca vi um avião a flanar (sim, não me enganei na letra) calmamente por uma avenida. Nunca vi um Boeing 747 a subir a Avenida da República. Nem um F16 a passar pela Almirante Reis. E porquê? Porque eles têm um sítio onde estar. Chama-se “Aeroporto”.
O que eu acho impressionante é que o Serafim (adorei o nome) SE ESPANTE pelo facto do avião onde ela ia (como vêem ela até optou por um método de viajar muito mais rápido.) não ter passado pela avenida. Mas o que é que este tipo anda a tomar? Já parece uma notícia que apareceu num jornal há uns tempos atrás em que se podia ler: “Detido foge de prisão de helicóptero.” E depois, como subtítulo está: “Polícia diz que montou barreiras nas estradas e não percebe como é que ele conseguiu fugir.” Vamos todos pensar nestes mistérios da vida.
Mas voltando ao que interessa. O refrão… sinceramente… vá… deixa a desejar. Vamos lê-lo em grupo… Façam uma rodinha… Isso.

Tens um nome delicado, não se pode escrever.
É preciso entrar em ti para te poder conhecer.
Não é nome que se diga, não é nome de mulher.
É da cor do teu vestido, é do teu jeito de ser.

Então? Gostaram? Por essas carinhas de sofrimento estou a ver que sim. O Serafim (nome fantástico) está assim tão desesperado? É preciso entrar em ti para te poder conhecer?! Alguém dê um tijolo a este tipo! Mas, de preferência, a alta velocidade, pela cabeça abaixo. E porque é que não se pode escrever o nome da rapariga? É assim tão frágil? Então deve ter sido bonito para os pais da criança a registarem. “Olhe eu vou dizer o nome dela, mas o senhor não o pode escrever. Pode murchar… Vai passar a ser um segredo só nosso…”. É claro, os pais do Serafim Borges (espectáculo de nome) quando o foram registar, tiveram de reanimar o desgraçado do homenzinho que ia a escrever o nome. E depois temos um esclarecimento. Não é nome que se diga. ENTÃO JÁ MUDA TUDO DE FIGURA… Então não se pode escrever porque é um nome feio. É mal-educado dizer o nome da rapariga em voz alta. É daqueles nomes que, quando são escritos em banda desenhada aparecem espirais, estrelinhas, punhos no ar e caveirinhas. Mas vamos deixar cair um véu pudico sobre esta cena e vamos assumir que o nome dela é Rosa (raios, escrevi o nome dela!).
Como é que uma pessoa tem um jeito de ser cor-de-rosa? Vamos deixar de pensar na Floribela que essa deu numa de pintar XX pretos nos malmequeres (e quando falo em X, falo mesmo, normalmente três ao mesmo tempo). E também não vamos pensar na rapariga das Chiquititas que essa é verde-alface com riscas cor-de-rosa (lindo, só superado pelo nome Serafim Borges). Resta-me dizer que aquele tipo com o nome chic a valer ficou sem ideias para continuar a escrever e teve de arranjar qualquer coisa para rimar. Porque eu nunca vi ninguém que fosse “rosa”.
“Em poucos dias toda a cidade estava pintada de rosa”. Ou seja, no mundo dele, virámos todos Floribelas e Zés Castelo-Brancos. Ainda bem que isto é só no mundo dele, porque senão eu ia já sujar o meu Versace para morrer de horror. Só apetece acrescentar: “E ficaram todos felizes e a cidade encheu-se de borboletas e as pessoas andavam todas com sorrisos parvos na cara e o boneco que se vendia mais era a Rosinha que canta: “Eu sou a Rosinha, a tua amiguinha, vamos dar as mãos e cantar uma canção!” e eu digo “vendia” porque apesar de ser um mundo cor-de-rosa não deixa de ser um Mundo.” Mas isso não chegaria aos calcanhares da solução que ele arranja: “E por todos os lugares lia-se o teu nome em prosa”…
Mas, que raio de bicho é esse de um nome em verso? Deve ser “banana”, com certeza. Mas banana não é nome de pessoa… É nome de macaco… ou de deputado (mas, neste caso, é um pseudónimo). Banana rima: “na” com “na”. De resto… Agora vamos pensar. Como é que o Serafim (nome com imenso plafond) quer que o nome Rosa seja escrito em verso? “Rorrosasa”? “Rosarrosa”? “Rosórrurosa”? Há coisas que me deixam com membros do Governo no sótão. Se repararem só está a dar motivos para a rapariga fugir dele (ainda para mais com a qualidade da canção.)
Mas de ti nem um sinal nem sequer uma notícia/A tua ausência prolongada era já caso de polícia”. Sem dúvida este tipo faltou à distribuição de cérebros. Então se alguém marca um encontro e a outra não aparece, é porque ela lhe deu uma tampa (eu, se fosse mulher, também dava). Não é preciso ir logo à polícia a dizer que ela tinha desaparecido, isso não é desgosto amoroso, é ser-se estúpido. A não ser que a rapariga não se chame Rosa, mas se chame Maddie, e aí faz todo o sentido. Excepto na parte da cor do vestido. “Olhe, temos aqui este vestido num tom cor-de-Maddie com motivos florais, muito bonito, todo em algodão”.
Mas agora vamos ao apogeu poético da música: “Tentei só mais uma vez escrever-te na terra molhada / E da noite para o dia eras uma semente germinada”. Que bonito! Eu acho que este até o verso menos mauzinho da música… Só porque é menos estúpido do que escrever o nome na linha férrea. Mas, mesmo só porque é impossível ser-se mais estúpido que isso. Desculpa lá Serafim, tu tens um nome fantástico mas as verdades têm de ser ditas…
E não, aquela transição no fim da música não fica bem… Fica pirosa. Não lembra ao macaco pôr: “Não é nome de mulher/É da cor do teu vestido/É do teu.../Tens um nome delicado”. Mas alguém lhe finalmente deu uma pancada na cabeça e provocou-lhe uma amnésia temporária? Ou foi o cérebro dele que com a qualidade da música avariou e fez como os computadores: “Houve um erro no sistema, o computador vai reiniciar. Lamentamos o transtorno causado.” A propósito, isso lembra-me uma coisa… Tenho de gravar o que já escrevi… Um segundo… OK. Portanto… Onde é que eu ia? Ah, sim.
Olhem. O que eu acho de facto bastante interessante é o facto destes Classificados fazerem as músicas a partir da secção de classificados dos jornais. Por isso eu tenho uma pergunta a fazer. Primeira: Mas onde raio é que eles foram buscar a Rosa nuns classificados? Segunda: Quero saber como é que vai ser o próximo hit deles? "Vendo um 4L barato, quase novo?" "Dou explicações de Biologia e Geologia?" "Aluga-se T2+1 na Reboleira?" Vão ser um mimo as próximas músicas. Pelo menos eu vou ter aqui um espacinho só para eles, para o caso de eles escreverem mais uma musiquinha. Só uma coisa, não façam músicas a partir da secção de Lazer dos classificados. É de muito mau gosto…
Fiquem com o vídeo e, se sentirem mal, ponham isto no Mute bebam um copinho de água açucarada.


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